Bloodlust - S01E01 - Pilot (Estreia)


O despertador tocava sem parar. Sarah despertou de um profundo sono, esperando que este fosse apenas mais um rotineiro dia. Depois de esfregar as mãos nos olhos e espreguiçar-se, ela finalmente desligou o despertador. Logo depois, como de costume, Sarah tomou banho, indo em seguida tomar seu café da manhã, e depois disso, escovar os dentes e ir para o trabalho. Parecia o mais comum dos dias, mas não era.


Sarah na verdade estava torcendo para que ninguém se lembrasse do aniversário que este dia celebrara. A lembrança da morte dos pais de Sarah a atormentara há algum tempo, e hoje fazera exatamente um ano desde o ocorrido.


Foi um brutal assassinato. Sarah estava presente. Ela junto de seus pais passavam de carro por uma das principais pontes da cidade logo depois de um jantar no Clark's Bar & Grill, um dos restaurantes mais famosos do local. Estava chovendo muito. Fora pela água que batia fortemente no vidro para-brisa do carro, quase que impedindo completamente a visão da estrada se não fosse pelos faróis ligados, a noite parecia no mínimo comum.


De repente, um estranho homem parou no meio da estrada, fazendo com que George, pai de Sarah e motorista do carro, pisasse abruptamente nos freios. Todos dentro do carro estavam assustados, e George, sendo o patriarca da família, resolveu sair dele para verificar se o tal homem precisava de ajuda ou se estava ferido. A cada passo em que George dava em direção ao homem, mais tensa Sarah ficava, quando de repente, ele se levantou e mordeu brutalmente o pescoço de George, jogando em seguida o corpo no chão.


Isto causou um pânico incessante em Lídia, a mãe de Sarah, que saiu do carro desesperada logo depois de avistar seu marido aparentemente morto. Porém, o estranho, que parecia ter uma força sobrenatural, acabou quebrando o pescoço de Lídia e, consequentemente, matando-a. Sarah estava no banco de trás observando toda a cena e o pânico não podia ser maior. Ela não sabia se gritava por ter presenciado a morte de seus pais, ou fugia por ter um assassino pronto para matá-la, ela estava sem reação.


O estranho se aproximava do carro e o pânico de estar perto da morte cada vez aumentava, o coração de Sarah estava aceleradíssimo. Numa decisão precipitada, ela abre a porta de trás do carro e sai correndo desesperadamente em meio àquela chuvarada. Quando parecia que a noite não poderia piorar, Sarah tropeça e acaba caindo, enquanto o estranho lentamente se aproximava.


De repente, uma fina estaca de madeira atravessara o peito do estranho, que ficou indefeso e saiu correndo numa velocidade sobre-humana. Logo atrás, Sarah avistou outro homem, também desconhecido, com uma besta em suas mãos que usara para atirar a estaca. O estranho saiu correndo.


Estava muito escuro naquela noite, e com a água da chuva somada com o pânico que permeava Sarah, ela não conseguiu ver o rosto de nenhum dos dois. Porém, ela nunca esqueceu aquela noite.


Sarah estava tentando ao máximo esquecer aquela noite trágica. Não falar disso seria a melhor estratégia, ainda mais caso ninguém se lembrasse. A pior parte disso seria ter que ouvir os amigos dando seus pêsames e relembrando algo que ela queria esquecer.


Assim, Sarah chega em seu local de trabalho. O Clark's Bar & Grill, chamado pela maioria apenas de "Clark's", era um dos mais famosos locais da cidade Trumansfield, onde Sarah morava. O dono do estabelecimento, Dennis Clark, sempre foi muito amigável com ela e depois da morte de seus pais, Sarah acabou desistindo da faculdade e sem um emprego fixo, foi acolhida por Dennis e trabalha como garçonete no Clark's desde então.


Com um sorriso no rosto que tentava ao máximo disfarçar o que Sarah realmente estava sentindo, ela entra no Clark's. Depois de cumprimentar todos os seus colegas de trabalho e largar sua bolsa numa prateleira no canto do escritório de Dennis – local onde os funcionários deixavam seus pertences durante o expediente – ela começara o serviço.


Logo em seguida, Sarah avista uma senhora entrando e sentando-se numa das mesas de seu setor, era Maryann Morgan. Maryann sempre foi conhecida pelos moradores da cidade por sua rabugice e falta de educação, então não seria surpresa para Sarah caso a cliente faltasse com respeito em algum momento, ela pensou. Ela resolveu apenas se controlar caso algo inapropriado fosse dito naquele momento e foi atender a mesa.


– O que a senhora vai querer hoje? – Sarah perguntou com um sorriso fechado e convincente no rosto.


– Vocês têm algum prato especial hoje ou são os mesmos de sempre? – Maryann perguntou com um tom levemente rude na voz.


– Não, senhora. Os especiais são apenas às terças, quintas e domingos. Hoje é quarta-feira. – Sarah respondeu, tentando ser educada e mantendo a expressão sorridente no rosto.


– Droga! Eu já pedi ao Dennis para aumentar esse cardápio. Não aguento mais comer x-burger com fritas e refrigerante, o gosto dessa cidade é tão caipira que eu fico irritada por não poder me mudar logo deste lugar! – Maryann aumentou o tom de voz, e logo começou a soar desrespeitosa.


– Nós temos outras coisas no cardápio, senhora. Escolha algo que goste. – Sarah se sentiu um pouco abalada com o tom de voz da cliente. Não estava tendo um bom dia, e isto somado à falta de educação de Maryann, Sarah estava com dificuldades para continuar falando educadamente.


– Como eu vou escolher algo bom, se tu neste cardápio é uma droga?! – Maryann começou a desafiar a boa vontade de Sarah, que acabou se descontrolando.


– Escute-me aqui sua vadia, eu posso ser educada mas até eu tenho limites! Se você veio aqui só pra dizer coisas que não preciso ouvir, é melhor ir procurar um lugar que a satisfaça! – Sarah exclamou altamente irritada, deixando todos no restaurante atônitos, inclusive Maryann, que nunca tinha ouvido alguém falar assim com ela.


Vendo que todos estavam encarando-a, Sarah saiu dali descontrolada e foi para o escritório de Dennis tentando esconder o choro. Para a sorte dela, a sala estava vazia, então ela poderia desabafar à vontade por um instante. Sarah começou a chorar.


De repente, Dennis entrou na sala para falar com ela.


– Oi. O que aconteceu lá, Sarah? Você assustou a todos. – Dennis perguntou compreensivamente.


– Desculpe, Dennis. Eu não sei o que deu em mim, simplesmente me descontrolei. – Sarah respondeu, ainda chorando, e tentando não dizer o por quê de ter realmente perdido o controle.


– Você não acha melhor tirar o dia de folga? Não vou te cobrar hora extra, você parece exausta.


– Não, está tudo bem. Eu só vou lavar o rosto no banheiro, me desculpar com a cliente e voltar ao trabalho. – Ela respondeu secando as lágrimas com as mãos.


– Nem pensar que você vai se desculpar com Maryann Morgan. Todo mundo sabe que aquela mulher é extremamente desrespeitosa, não merece nenhum respeito mesmo. Você apenas fez o que todos nesta cidade queriam já ter feito.


– Tudo bem, Dennis. Obrigada. – Sarah soltou um leve sorriso torto e se retirou do escritório, indo em direção ao banheiro feminino.


No caminho, Sarah esbarra em Jim, um de seus colegas de trabalho.


– Opa, desculpe Sarah. Olha, eu só queria me desculpar pela minha mãe mais cedo, ela foi muito rude. – Jim disse sinceramente.


– Ah, tudo bem, Jim. Eu é que peço desculpas, não devia ter reagido daquele jeito. – Sarah respondeu à altura para não parecer desrespeitosa também.


– Que isso, todos sabem como ela é. Você fez o certo em abrir os olhos dela.


Sarah soltou um sorriso compreensivo e pediu licença para ir ao banheiro lavar o rosto, como planejara antes.


Jim era um dos dois garçons do Clark's, que na maioria era composto por mulheres. Ele sempre foi querido por todos, apesar de meio tímido. Apesar da má fama de sua mãe, Maryann, Jim nunca se deixou abalar por isso, sendo gentil com todos sempre que possível.


Logo depois de lavar o rosto, Sarah foi diretamente ao bar do Clark's, onde sua melhor amiga Katherine, trabalhava como bartender. As duas se conhecem desde a infância, e nunca tiveram uma briga significativa. Katherine, que preferia ser chamada de "Kath", apesar da falta de paciência com algumas pessoas, sempre esteve lá por seus amigos.


Sarah sentou-se num dos bancos da bancada do bar para tomar umas doses de tequila com sua amiga e relaxar. Ela pensou bem e decidiu aceitar a proposta de Dennis de tirar uma folga e passou o resto do dia sentada ali conversando com Kath, que enquanto isso também atendia os clientes.


Depois de algumas horas, o entardecer da noite chegara. Sarah já tinha se recuperado e resolveu ajudar a limpar algumas mesas vazias no restaurante. O Clark's estava praticamente vazio, poucos clientes ali estavam.


De repente, o sino da porta da frente tocou e Sarah virou-se para ver quem era. Era um homem alto, muito elegante e bem vestido. Seus olhos iam diretamente a Sarah, que ficou paralisada com tamanho charme. Ele era um total estranho, ninguém ali o conhecia, mas todos o notaram.


Em uma passo lento e firme, o estranho se direcionou a uma das mesas do setor de Diane, uma das garçonetes do Clark's. Diane estranhou a aparência do cliente, ele era pálido e tinha vestes bastante fora de moda, embora elegantes. Ela se aproximou dele para atender seu pedido.


– Oi, o que você vai querer? – Diane perguntou indiferentemente.


– Eu gostaria de uma garrafa de vinho tinto, por favor. Qualquer marca está bom. – Ele respondeu sutilmente e olhando diretamente para ela.


– Mais alguma coisa?


– Por enquanto é só isso mesmo.


Diane deu meia volta e foi ao bar atender o pedido do cliente.


– Ei, Kath. Você pode me ver uma garrafa de um vinho tinto qualquer e uma taça para o senhor Dracula sentado ali atrás? – Ela perguntou ironicamente.


– É pra já. – Kath pegou uma garrafa de "Merlot" e em seguida foi pegar uma taça.
Sarah, aproveitando o momento, resolveu se intrometer.


– Então, quem é aquele homem misterioso? – Ela perguntou com uma óbvia curiosidade na voz.


– Pelo que eu consegui identificar é um ninguém. Por que o interesse? – Diane perguntou desconfiada.


– Nada demais, estou apenas puxando assunto. – Sarah respondeu olhando para o outro lado e tentando disfarçar o interesse.


– Oh, meu Deus. Você está interessada nesse esquisito?!


– É claro que não, pare com isso!


– Bom, então você não se importaria de servir ele no meu lugar, se importaria? – Diane perguntou testando Sarah.


– Por que eu faria isso? Você está aqui! – Sarah começou a ficar constrangida.


– Bom, é que eu preciso ir no banheiro rapidinho. Faça esse favor para a sua amiga querida! – Diane se esquivou soltando risos devido o evidente interesse de Sarah no cliente misterioso.


Kath colocou o vinho e a taça na bandeja em cima do balcão para que Sarah levasse ao cliente. Ela, levemente desequilibrada devido o nervosismo do momento, pegou a bandeja e foi até a mesa do elegante cliente. Ela desajeitadamente colocou o vinho e a taça na mesa.


– Você quer que eu o sirva, senhor? – Ela perguntou tímida.


– Sim, por favor. – Ele respondeu com um leve sorriso torto.


Ela abriu a garrafa, e civilizadamente serviu o vinho.


– Você é novo por aqui, não é? – Sarah perguntou, tentando puxar assunto.


– Não exatamente. Por que pergunta?


– É que eu nunca vi você por aqui e praticamente todos na cidade vêm aqui.


– Eu já morei nesta cidade uma vez. E depois de um tempo fora, eu voltei.


– Você tem amigos por aqui?


– A maioria dos meus amigos já morreram.


– Ah, mas você nem é tão velho! – Sarah disse precipitadamente e sorrindo, o que culminou num silêncio desconfortável por alguns segundos, até que ela retomou o assunto. – Então, se você não tiver ninguém por aqui, nós poderíamos sair uma hora dessas. Eu, poderia te apresentar algumas pessoas para que você faça novas amizades e se situe melhor na cidade... Se você quiser, é claro! – Ela exclamou numa tentativa desesperada de chamá-lo para um encontro.


Ele sorriu brevemente.

– Eu adoraria sair com você...


– Sarah, meu nome é Sarah.


– Muito prazer, meu nome é John.


Os dois sorriram por alguns segundos.


– Bom, o seu vinho está servido. Se você quiser algo mais é só chamar a Diane, ela é quem comanda este setor.


– Tudo bem, obrigado.


Sarah deu meia volta e voltou ao bar, onde falou sobre John com Kath por alguns minutos. Logo depois disso, Sarah resolveu ir ao banheiro retocar a maquiagem.


Chegando ali, Sarah foi diretamente à frente do espelho para repassar seu gloss labial incolor. Através do reflexo do espelho, ela estranhou que uma das cabines estava meio aberta e com os pés de alguém à vista. Sarah se aproximou lentamente para ver se alguma bêbada tinha desmaiado enquanto vomitava.


Era Diane, morta.

CONTINUA...

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PRODUZIDO POR
UNBROKEN PRODUCTIONS

ESCRITO POR
RAFAEL CRUZ

UNBROKEN PRODUCTIONS SERIES

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Por: Rafael Galvão