Bloodlust - S01E02 - Bloody Town

Diane estava deitada no chão, com a cabeça encostada na tampa do vaso sanitário. Ela tinha dois furos em seu pescoço, aparentemente marcas de mordida, e sangue escorrendo por boa parte do corpo. Sarah entrou em desespero, esta cena com a qual se deparara a fez lembrar-se da noite em que seus pais morreram, trouxe tudo que ela acabara de esquecer de volta. As marcas no pescoço de Diane eram as mesmas que ficaram nos corpos dos pais de Sarah, ela ficou paralisada. – "Estaria o assassino de volta para terminar o que começou há um ano?" – Ela pensou brevemente, aterrorizada.
Quando se deu de conta da realidade novamente e seus pensamentos retornaram ao momento presente, Sarah gritou o mais alto que pôde. Ela não sabia o que fazer além de gritar para pedir ajuda.
Todas as pessoas presentes no restaurante ficaram assustadas com os gritos de Sarah, e os clientes sendo na maioria caipiras fofoqueiros e enxeridos, foram estes os primeiros a chegar no local. Todos os clientes ficaram assustados com aquela cena brutal, e logo, como qualquer multidão em uma cidade pequena, começaram a tirar fotos do cadáver para mostrar aos familiares e amigos no dia seguinte. Não faltaram flashes de câmeras de celulares naquele momento. Logo depois, dentre as pessoas no banheiro presenciando o cadáver de Diane e as tentando vê-lo logo atrás, chegou Dennis passando por elas.
– Meu Deus, o que aconteceu aqui?! – Ele exclamou desesperado com as mãos na cabeça.
– Alguém a matou! Você precisa chamar ajuda! – Sarah respondeu, ainda assustada com tudo aquilo.
– Dean, chame a ambulância e a polícia, agora! – Dennis gritou para Dean, um dos cozinheiros do Clark's, que estava logo atrás e foi rapidamente pegar o telefone para pedir reforços. – Sarah, você precisa se afastar do corpo agora mesmo! – Ele acrescentou erguendo a mão esquerda como sinal para que ela se distanciasse do cadáver de Diane.
Sarah fez o que Dennis pedira e foi em direção à porta para sair do local, que no momento estava bloqueada pelos clientes, ainda tirando fotos com o celular e filmando a cena. Dennis ordenou que todos liberassem espaço e se afastassem do local para que Sarah pudesse sair, e assim fizeram retornando para suas respectivas mesas.
Sarah voltou para o bar, onde Kath estava curiosa sobre o acontecido.
– O que diabos aconteceu naquele banheiro? Você gritou tão alto que eu pensei que alguém tinha morrido! Eu nem consegui entrar ali por causa destes clientes meia boca que se intrometem em qualquer tipo de barraco.
– A Diane morreu! Ela está lá toda ensanguentada no chão do banheiro! Eu preciso de uma bebida, urgentemente! – Sarah exclamou transtornada. Kath ficou chocada com a notícia, e logo tratou de pegar algo para as duas beberem no estoque do bar.
John chegou por trás de Sarah para perguntar o que aconteceu, e assim como foi com Kath, ela explicou o acontecido. John se mostrou extremamente surpreso, e logo foi na cena de crime conferir.
Ao ver o corpo de Diane com duas marcas de mordidas, ele logo deduziu que o malfeitor tinha sido um vampiro. Assim, resolveu ir embora antes que a polícia chegasse e começasse a fazer perguntas, coisa que John odiava.
– Se você não se importar, eu vou ir pra casa agora, Sarah. A noite foi muito longa e estou exausto.
– Está tudo bem. Um assassinato não é muito romântico mesmo para um primeiro encontro, você quer anotar o número do meu celular?
– Eu não tenho celular, nunca gostei deles. Eu venho visitar você uma hora dessas. – Ele respondeu com um breve sorriso. Os dois se despediram e John foi embora.
Já fora do restaurante, John entra em seu carro e liga para alguém.
– É bom que seja importante. Estou no pilates. – Uma mulher o atendeu.
– Eu a encontrei.
– Bom, eu vou classificar isso como importante, então. Como ela é? – Ela parecia curiosa.
– Normal. Aparentemente, uma pessoa comum. Qual é o seu interesse nesta garota? – John respondeu apaticamente.
– Isto é problema meu, o seu dever é investigá-la pra mim. Entendeu?
– Sim, desculpe.
– Por acaso ela sabe que você matou os pais dela?
– Não, aparentemente nem me reconheceu.
– Ótimo. Mantenha-me informada.
John desligou o celular.
Ainda naquela noite – um pouco mais tarde –, Kath já havia terminado seu turno no Clark's. Depois de uma noite tão estranha, tudo que ela precisava era de um bom banho. Chegando em casa – onde morava com sua avó, Marnie, desde que sua mãe falecera há 19 anos –, Kath tratou de largar suas coisas num canto qualquer e ir direto para o banho para depois então, poder finalmente dormir.
Enquanto tirava a roupa em seu quarto, Kath foi interrompida por Marnie.
– Meu Deus, você não está vendo que eu estou tirando a roupa?! – Exclamou Kath.
– Ah, desculpe querida, eu não queria interromper você. Só quero te dar um presente.
– Qual a ocasião? – Ela perguntou surpresa.
– Eu soube do incidente no seu local de trabalho hoje. Isto abriu meus olhos, você não está segura nesta cidade.
– Você ainda vai me dar um presente? Por que eu senti uma negatividade vinda desta sua última fala. – Kath perguntou ironicamente.
– Eu não espero que você entenda o por que, eu só queria que você ficasse com isto. – Marnie estendeu a mão, onde tinha consigo uma pulseira de prata. Kath pegou a pulseira.
– Nossa, é linda. Obrigada, eu acho.
– Agora, eu quero que você me escute com atenção. Em nenhuma ocasião tire esta pulseira, mantenha ela sempre com você, até mesmo quando for dormir. Vai te proteger de todos os males. – Disse Marnie, segurando a mão da neta.
– Ah não! Não me diga que isso tem a ver com aquele lance de bruxaria?! Você sabe que eu odeio quando você começa a falar como uma macumbeira! – Kath respondeu irritada.
– Eu sei que você é cética. Mas por favor, use-o. Promete?
– Tudo bem! Mas eu não quero mais ouvir você falando essas asneiras, já não basta o Dean!
– Seu primo tem virtudes que você nem imagina. Um dia eu espero que você possa ser igual a ele.
– Eu acho que você anda comprando ervas com ele, isto sim!
Marnie soltou risos.
– Boa noite, querida. Durma bem. E não se esqueça, use a pulseira.
– Tudo bem, vovó. Boa noite.
Os ancestrais de Kath tinham um histórico como feiticeiros e bruxas. Marnie sempre fez tudo o que pôde para incentivar seus netos a continuarem este legado, contando várias e várias vezes a história da família. Dean, o cozinheiro do Clark's, sempre gostou de praticar magia com Marnie. Kath, por outro lado, sempre foi cética quanto a isto, ou queria ficar longe, e dificilmente isto iria mudar.
Kath deixou a pulseira em cima de sua mesinha de cabeceira e foi tomar banho para logo depois, enfim, dormir.
Na manhã seguinte, todos estavam voltando do funeral de Diane. Ela não era considerada muito querida pelos moradores cidade, nem tinha família por perto para lamentar por ela, então o funeral estava com poucas pessoas. Diane era conhecida na maioria por suas noitadas na casa de estranhos. Trumansfield era uma cidade interiorana e pequena, então as pessoas fofocavam bastante entre si. Devido a isso, ela passou a receber uma má fama por parte da pequena população do lugar.
Com um acontecimento trágico e um tanto raro tendo acontecido em Trumansfield, Dennis decidiu não abrir o Clark's e dar um dia de folga para todos os seus funcionários. Porém, não era como se tivesse muito entretenimento naquela pacata cidade, então Sarah e os outros resolveram trabalhar mesmo assim.
Kevin, um dos garçons do restaurante, retornou ao trabalho depois de um dia de folga junto de sua namorada e também colega de trabalho, Melissa. O Clark's ainda estava fechado, faltavam alguns minutos para abrir. Portanto, Kevin resolveu ir até a cozinha acertar algumas contas com Dean.
– E aí, cara? Escuta, eu sei que te devo uma grana. Será que eu posso pagar semana que vem? Estou realmente sem dinheiro hoje. – Kevin perguntou.
– Eu sabia, eu sabia que não dava pra confiar em você. Eu te empresto um dos meus produtos mais caros e você não me paga, típico! – Dean respondeu desapontado.
– Não precisa se irritar, cara. Eu prometo que pagarei.
– Você acha que eu sou idiota, Kevin?! Eu sou um vendedor, trabalho com pessoas como você o dia todo! Vocês chegam a mim pedindo empréstimos e adiam o pagamento até eu dizer "Chega!"! Eu não vou passar por isso novamente, ou você me paga até amanhã, ou eu prometo que farei você se arrepender! – Dean respondeu zangado e apontando o dedo para o rosto de Kevin como forma de intimidação.
Dean, além de cozinheiro no Clark's, era também um "comerciante", por assim dizer. Ele traficava as drogas mais exóticas por preços altíssimos para pagar suas contas. Além disso, tinha o seu próprio website – local onde postava diversos videos pornográficos consigo mesmo –, uma forma de atrair clientes – tanto homens quanto mulheres – para o seu outro emprego como michê.
O cozinheiro "ralava" para sustentar-se, e sempre foi conhecido por seu mercenarismo e sarcasmo afiado. Apesar dos preconceitos dos clientes caipiras do restaurante com sua homossexualidade, Dean nunca se deixou abalar por isso e sempre se manteve forte e fazendo o que pôde para se manter erguido.
Kevin, por outro lado, era mulherengo e preguiçoso. Nunca teve uma grande perspectiva de vida, sempre se manteve com expectativas e sonhos baixos. Clark's foi o seu único emprego até então, e Kevin só o conseguiu devido a amizade entre sua avó, Darlene, e seu chefe Dennis.
Intimidado por Dean, Kevin resolveu encerrar o assunto naquele mesmo momento e prometeu pagá-lo no dia seguinte. Dean estava furioso por ter confiado em Kevin e pelo prejuízo que este falho investimento lhe causou.
Enquanto isso, Sarah ainda estava tentando superar o que vira no dia anterior, a imagem de Diane morta no chão do banheiro continuava a atormentá-la. Kath estava no balcão do bar, como sempre, e desta vez usando a pulseira que sua avó lhe deu na noite passada. As duas estavam conversando sobre o assassinato.
– Ah, Deus. Eu mal consegui dormir ontem à noite por causa da Diane. – Disse Sarah com uma voz rouca e esfregando as mãos no rosto.
– Olha, eu sei que foi traumático pra você ter que ver aquilo, mas vamos admitir: a Diane era uma vadia.
– Kath, isto é uma coisa terrível de se dizer sobre alguém que acabou de morrer. – Respondeu Sarah, surpresa com tamanha frieza da amiga.
– Por que não se pode falar mal de um defunto? As pessoas são tão hipócritas, falam mal de uma pessoa durante a vida toda, mas quando ela morre, decidem ficar de luto.
– Eu não odiava a Diane. É claro que eu não aprovo as decisões que ela fez na vida, mas cada um cuida da sua, certo?
– Eu só estou dizendo que não vale a pena deixar de viver pra ficar de luto por alguém, especialmente alguém como a Diane. O que você tem que fazer é seguir em frente. – Disse Kath enquanto secava alguns copos.
– Nossa, que sensibilidade a sua, hein?
– Eu chamo de ser realista.
– Pulseira bonita, aliás. Foi um presente? – Perguntou Sarah na tentativa de mudar o assunto.
– Pois é, minha avó me deu. Mas por favor, não me pergunte o por que, as vezes nem eu entendo aquela mulher!
– Bom, eu adorei. Deixa você bem feminina.
– Em vez de ficar falando idiotices, por que você não faz algo útil e começa a arrumar as mesas?
– Eu estou muito cansada. Além disso, o Kevin e a Melissa estão trabalhando hoje.
– E que diferença isto faz? Aqueles dois só sabem ficar dando amassos pelos cantos!
– De qualquer jeito, eu não estou com cabeça para atender estes caipiras hoje, você não quer trocar de lugar comigo?
– Não, obrigada. Eu estou muito bem servindo bebidas, mas se você quer ser útil sem ter que se esforçar muito, limpe o balcão pra mim. Eu preciso pegar algo na minha bolsa. – Kath tirou o avental e o deixou em cima do balcão, e logo depois foi ao escritório de Dennis.
Chegando lá, a sala estava vazia. Dennis quase nunca ficava em seu escritório, gostava de ficar rondando o restaurante para ver como as coisas estavam andando, ou fazendo algo que os funcionários esqueciam, como tirar o lixo ou arrumar mesas.
Aproveitando que Dennis estava ausente, Kath foi até a prateleira dos funcionários e pegou em sua bolsa, o seu celular, que ela gostava de deixar em seu bolso caso alguém ligasse.
De repente, alguém chamou por Kath, era uma voz feminina. Kath virou-se e viu a mais ou menos 2 metros de distância, uma mulher. Ela estava carbonizada e nua, mal dava para ver seu rosto. Kath assustou-se ao ver aquela mulher desconhecida, estava paralisada, não sabia o que fazer naquela momento.
– Você, você precisa de ajuda? – Perguntou Kath, sem saber mais o que dizer.
A misteriosa mulher correu em direção a Kath, que gritou apavorada.
CONTINUA...
PRODUZIDO POR
UNBROKEN PRODUCTIONS

ESCRITO POR
RAFAEL CRUZ

UNBROKEN PRODUCTIONS SERIES
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Por: Rafael Galvão