Era um dia chuvoso. Acordei às nove da manhã de um feriado não muito agradável. Tudo aconteceu no dia de finados. Este foi o dia em que o mundo descobriu BrookHaven. Eu só gostaria que... Nunca tivessem descoberto.
— Escapamos. – Diz Cassandra, trancando a porta.
— Ninguém escapa de BrookHaven. Foi essa a história que ouvimos e é essa a história que será contada, não entende?! – Exclamo pálida.
— Acho que agora estamos seguros. – Cassandra vira e seus olhos arregalam.
— O que foi?
— Amanda...
— Cassandra, você está me assustando.
— Ela está atrás de você.
Sinto a escuridão dominar meu corpo enquanto caio no som do silêncio.
Estou inquieta. Bato minha caneta contra a cadeira em movimentos que fazem barulhos irritantes. Não consigo pensar, não consigo agir, apenas continuo com este barulho irritante até que eu me distraio pela entrada de um novo professor na sala.
— Bom dia classe. – A sala de aula inteira o responde.
— Meu nome é Robert Campbell, eu sou o seu novo professor de história local. Abram seus livros na página quarenta e seis, por favor.
A voz grossa de Robert me dá sono e medo ao mesmo tempo. Pego o meu livro na mochila e abro na página. Não há nada demais aqui exceto por alguns piratas que invadiram a costa da cidade em mil, oitocentos e alguma coisa, não estou interessada niso. Ashley me cutuca com a ponta do lápis e viro-me em sua direção.
— O que foi? – Pergunto, ainda batucando a caneta na cadeira.
— Eu gostaria de saber se você não consegue falar de mim para o Peter...
— Você está afim do Peter?
Uma bola de papel atinge meu rosto e viro para frente com Robert olhando em nossa direção com seus olhos negros. Pego a bola de papel do chão e desamasso-a, há um recado nela.
Encontre-me na biblioteca no intervalo. Leve sua amiga que eu levo o meu.
Rick.
Peço ao professor para atender meu celular do lado de fora da sala de aula. Meu celular não tocou, mas quero um pouco de ar fresco. O ar condicionado está fazendo meu nariz entupir e logo, logo eu teria um ataque de asma lá dentro.
Ando pelos corredores intermináveis do Colégio WonderStudio esbarrando em alunos, professores e funcionários a toda hora. Meu salto alto bate no piso e faz altos estalos. Vejo uma placa azul com o seguinte dizer:
<< Biblioteca | Informática>>
Por alguma razão desconhecida, viro à esquerda e me dirijo à biblioteca. Ouvir a voz de Robert, ouvir a insegurança de Ashley ou aturar a imaturidade de Rick me trariam nojo. Entro na biblioteca e vou para uma das mesas de leitura no final.
A estante nesta ala da biblioteca é só sobre os estados dos EUA, não há nada diferente por aqui. Ouço uns barulhos esquisitos e percebo que Ashley e Peter chegaram à biblioteca e que eu tive o azar de vir parar na ala vizinha a que eles estão se agarrando.
Um livro chama a minha atenção. Capa preta, letras e detalhes dourados. O livro está gasto e empoeirado, puxo-o pela lateral e observo-o por um longo tempo. Há uma marca de uma mão no livro, provavelmente ficou aí por causa do tempo. Pouso o livro sobre a mesa e dou um sopro forte, expulsando boa parte da poeira contida ali. As folhas do livro são amareladas e de papel duro, papel antigo. Há várias manchas nelas e algumas páginas estão ilegíveis. Observo a lateral do livro novamente e encontro o seu nome.
BrookHaven.
Começo a folheá-lo calmamente até encontrar a foto de um mapa. Mas esse não é o mapa comum dos Estados Unidos. Há um estado a mais aqui. BrookHaven está neste livro. A folha seguinte começa a explicar o porquê da existência daquele estado, mas antes que eu possa captar o que está escrito, percebo a chegada de alguém na minha ala.
— Amanda Roosevelt, lendo? Vai chover.
— Já está chovendo. – Aponto para a janela molhada com os pingos de chuva.
— Você entendeu. – Rick completa – Sério, o que você faz aqui?
— Precisava de um tempo para espairecer. Depois de tudo o que aconteceu...
— Eu sei, sinto muito pela sua irmã. – A expressão no rosto de Rick parece sincera.
— O que você está lendo?
— Eu não sei bem, mas é um tal de BrookHaven. Dá uma olhada neste mapa:
Mostro-lhe o mapa e Rick fica confuso, mas não creio que seja por causa da existência de BrookHaven, Rick provavelmente não sabia que os Estados Unidos tem uns cinquenta estados. Pego o livro da sua mão e começo a lê-lo.
Localizado no sudeste do Arizona, BrookHaven é um estado proibido para todos que o visitam. Não é aconselhável ir lá sozinho, nem mesmo acompanhado. BrookHaven é amaldiçoado e almas torturadas e agonizantes ainda vagam pelo local. Não há registro de pessoas que visitaram BrookHaven após o terremoto na segunda guerra que tenha voltado. As pessoas simplesmente desaparecem...
— Um estado? Um estado inteiro assombrado? Isso é piada. – Diz Rick.
— Eu não contaria com isso. – Uma voz grossa começa a interagir conosco.
Robert.
— Há muitas controvérsias sobre a existência de BrookHaven e eu particularmente adoraria visitar o local, mas não me atrevo. Minha avó sempre me contou histórias míticas que aconteciam aqui no Arizona, como a infestação de bruxas, por exemplo. Acho melhor vocês pararem esta história por aqui enquanto podem.
— Senão o quê? – Pergunto.
— Senão eu vou ter que dar à vocês dois uma advertência por sair da sala de aula e aos outros dois por ficar se agarrando na biblioteca.
Levanto-me da cadeira e levo o livro BrookHaven comigo. Passo o resto da aula batucando minha caneta no braço da cadeira por pura inquietação. Não consigo, não dá para simplesmente tirar isso da mente. Preciso visitar BrookHaven.
O sinal para ir embora é acionado e todos os meus colegas saem da sala de aula alvoroçados para pegar o ônibus. Ando calmamente pois a esta altura, meu irmão já deve estar me esperando no portão do colégio com seu carro esportivo preto. Não gosto de Stuart, ele é mesquinho, mas tenho que aturá-lo. Ashley me acompanhou até o carro do meu irmão, e com uma voz trêmula, o cumprimentou.
— Como vai, Stuart?
— Eu vou bem Ashley. – Diz ele com uma voz suave – E você?
— Vou bem também. Ah, Amanda, não esquece que temos o trabalho de Robert para fazermos no feriado.
— Que trabalho? – Pergunto atônita.
— Ele passou um trabalho para nós quatro por que cabulamos aula. Temos que falar sobre BrookHaven.
— Eu falo com o Peter e o Rick no facebook mais tarde. Quer uma carona?
— Claro.
Ashley e eu entramos no carro e sentamos no banco de trás. A namorada do meu irmão, Cassandra, está no banco do passageiro checando seu e-mail no seu Galaxy. Ela ignorou nossa presença e fazemos o mesmo. O caminho até em casa é longo, mas nem eu nem Ashley damos uma palavra.
A estrada está escorregadia. A chuva torna-se cada vez mais forte impossibilitando o sinal de internet do celular de Cassandra e a visão de Stuart. Uma lombada apareceu na estrada e Stuart freou o carro duma vez, jogando todos nós para frente. Minha mente se torna um branco, depois um preto e já não vejo mais nada.
Acordo com os barulhos da chuva batendo na janela ao meu lado. Passo a mão pelo me rosto e jogo o cabelo para trás, dando espaço para minha visão, mesmo que pouca. O carro está de cabeça para baixo e começo a gritar por ajuda na esperança de que alguém me ouvisse. Sinto o cheiro de gasolina e percebo que o líquido está rondando o carro. Começo a ficar tonta com meu sangue descendo para a minha cabeça. Solto o meu sinto de segurança e caio no solo. Solto o cinto de Ashley e ela acorda com a pancada.
— Ai! – Ela geme, quase sem forças.
— Temos que sair daqui Ashley. O carro virou.
— É sangue ali?
— Onde? – Pergunto.
Ashley aponta para Cassandra. Sangue começa a escorrer pelo seu nariz e sua boca, e vejo um pedaço de vidro perfurando seu estômago. Começamos a dar chutes e empurrões nas portas até que a porta do meu lado se abre. A névoa toma conta de toda a estrada e não escuto nenhum outro barulho senão a chuva. Faíscas começam a soltar e Nos desesperamos para abrir o carro. Consigo abrir a porta do lado de Stuart e com a ajuda de Ashley, tiro-o de lá. Colocamos Stuart na beira da estrada e uma chama acende-se. Corro para o carro e puxo-a pela janela quebrada cheia de estilhaços de vidro que tanto cortam a ela como a mim. Não tenho tempo para cuidado, simplesmente arrasto-a ao mesmo local onde Stuart está e a explosão do carro faz meus olhos arderem. Um objeto em chamas é arremessado numa poça d’água próximo de nós.
— Ashley, fique aqui e tenta ligar para alguém. Deve ter um celular no bolso de um dos dois. – Digo.
Caminho por alguns metros até chegar à poça d’água. As chamas que cobriam o objeto haviam cessado, deixando o objeto simplesmente chamuscado. Ainda consigo ler a lateral, é o livro BrookHaven. A névoa começa a se dissipar, mas a chuva continua mais forte do que nunca. Volto ao local onde Ashley está e fico na espera da ambulância.
PRODUZIDO POR
UNBROKEN PRODUCTIONS
ESCRITO POR
W. H. PIMENTEL
UNBROKEN PRODUCTIONS SERIES
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