
Estava uma noite linda. Várias estrelas no céu, e um clima muito romântico no ar. Sarah e John estavam em seu primeiro encontro. Depois de uma passeada de carro pela cidade com direito a vários elogios um ao outro, John decidiu "encostar" o carro e dar uma caminhada com Sarah.
Os dois chegaram a "Truman's Central Park", a praça mais famosa de Trumansfield. Um lugar onde geralmente casais iam para passear à noite.
– Então, por que você me trouxe aqui? Pensei que íamos jantar ou algo assim. – Sarah perguntou sorrindo.
– Passear é muito mais romântico do que jantar, você não acha? Dentro de restaurantes, têm várias pessoas conversando. Aqui temos o silêncio, que permite uma conversa mais calma.
– Você é bem da "moda antiga", não é?
– Gosto de lugares mais calmos, só isso.
– E por que você estava no Clark's ontem, então? É um restaurante e com certeza não é calmo.
– Acho que eu apenas precisava beber alguma coisa.
– Mas no fim você não bebeu.
– Você é uma garota persistente, não é? – Ele perguntou sorrindo.
– Desculpe, não tenho mais assunto para "puxar".
– Está tudo bem, estou só brincando. Gosto muito de você.
– Obrigada. E eu gosto de você. – Os dois sorriram, e Sarah deu continuidade à conversa. – Então, você me disse no outro dia que já morou aqui antes?
– Sim, sim. Eu morei quando era mais jovem, mas mudei-me logo depois que minha esposa Lena, faleceu.
– Nossa, eu sinto muito. Há quanto tempo foi?
– Desculpe, podemos mudar o assunto? Não me sinto confortável falando disso.
– Desculpe.
– Tudo bem. Fale-me mais sobre você...
– Ah, não tem muito o que falar, na verdade. Sou garçonete há mais ou menos um ano pois desisti da faculdade logo após a morte dos meus pais.
– Eu, sinto muito. Deve ter sido difícil pra você passar por isso. – John respondeu tentando demonstrar compaixão.
– Pois é. Coincidentemente, ontem fez um ano que eles morreram. Eu tentei ao máximo não lamentar pelo acontecido, mas não consegui. Logo antes de você chegar ao Clark's, eu tinha perdido o controle com um dos clientes. E quando você chegou, naquele breve tempo em que conversamos, eu senti algo que nunca tinha sentido antes. Eu estava feliz pela primeira vez em muito tempo. Eu, por isso te convidei pra sair, pois gostei muito de você. – Disse Sarah, emocionada.
Naquele momento, John começou a sentir uma ponta de compaixão por Sarah. Ele começou a ver que seus feitos do passado tiveram consequências, mesmo que em apenas uma única pessoa. Estava arrependido.
– Nossa, Sarah... Eu nem sei o que dizer. – Ele respondeu, constrangido.
– Não precisa dizer nada. Só a sua presença já faz toda a diferença pra mim, eu nem deveria despejar os meus problemas em você. Eu só queria que você soubesse que eu realmente gosto de você, John.
Os dois trocaram olhares por um breve instante. E num momento bastante íntimo, Sarah e John se aproximaram um do outro, e seus lábios se tocaram. Os dois começaram a se beijar lentamente, e depois de ficarem confortáveis um com o outro naquele extasiante momento, começam a agarrar e beijar-se mais rapidamente.
Depois de alguns segundos, John desencostou seus lábios e mãos de Sarah e virou-se para o outro lado abruptamente.
– Acho melhor eu levar você pra casa. – Ele disse com o rosto para o outro lado. Estava na verdade tentando esconder suas presas de vampiro, que apareciam quando ele estava muito excitado, ou sedento por sangue. No caso, os dois.
– Fo... foi algo que eu fiz? – Sarah perguntou, surpresa.
– Não, apenas acho que está muito tarde. É melhor nós irmos. – John voltou seu rosto novamente para Sarah, tinha conseguido esconder suas presas. Mas sabia que se continuasse ali, elas poderiam aparecer novamente – não era como se ele pudesse controla-las –, então decidiu levar Sarah para casa.
Enquanto isso, todos já tinham terminado seus expedientes no Clark's. Dennis e Melissa eram os únicos presentes. Dennis estavam tirando os pratos sujos das mesas e Melissa estava checando sua bolsa antes de ir para casa.
– Melissa, por acaso você sabe onde o Kevin foi? Ele me pediu folga durante o resto do dia mais cedo e nem me disse o porquê. – Dennis perguntou curioso.
– Na verdade eu ia te perguntar se você o viu, estranho isso. Ele me pediu dinheiro emprestado mais cedo e desde então não o vi mais. – Melissa checou no seu celular e viu que não tinha nenhuma mensagem de texto ou de voz.
Logo depois, se despediu de Dennis e resolveu ir para casa.
Alguns minutos depois, Kevin estava chegando de caminhonete na casa de sua avó, Darlene. Ele estava atualmente morando com Melissa até que conseguisse comprar outra casa, mas antes disso, morava com sua avó desde que sua mãe fugiu quando ele era criança. Kevin tinha uma relação muito amigável com Darlene, ele sempre foi mimado por ela. E por saber que sua avó não tinha ótimas condições financeiras, Kevin nunca abusou da bondade dela a ponto de pedir dinheiro emprestado, por isso mesmo não pediu a ajuda dela em sua dívida com Dean.
Kevin estava todo machucado, surpreso até mesmo por ter conseguido dirigir até ali sem desmaiar no caminho. Ele saiu da caminhonete, com feridas por todo o corpo, mal podia ficar em pé. Ao começar a ser espancado pelos motoqueiros no bar, pensou que ia apanhar até a morte, por pouco que isso não aconteceu.
Com passos lentos, Kevin chegou à porta de sua avó e – com a chave que tinha para casos de emergência – entrou na casa.
– Oh, meu Deus. O que foi que aconteceu com você?! – Darlene exclamou, chocada ao ver o neto com todo aquele sangue escorrendo pelo corpo.
– Eu, eu...
Ao tentar responder sua avó, Kevin perdeu a visão por alguns segundos, até que desmaiou perto da porta.
Enquanto isso, John estava levando Sarah de carro até sua casa. Ele encostou o carro e a acompanhou até a porta antes de se despedir.
– Obrigada por me trazer até aqui. – Disse Sarah, colocando a mão em sua bolsa para pegar as chaves.
– Ah, imagina, o prazer foi meu. Embora tenha sido difícil encontrar a sua casa, já que não conheço mais esta cidade como costumava. – Ele respondeu, soltando risos.
Sarah sorriu também, e depois de alguns segundos em silêncio, decidiu prosseguir com a conversa.
– Por que você me afastou daquele jeito, John? Se foi alguma coisa que eu fiz, você pode me dizer, eu não ficarei chateada.
– Eu só, eu fiquei nervoso... Não fiquei com nenhuma mulher depois que minha esposa faleceu, beijar você me trouxe algo que eu não sentira há muito tempo. Não se preocupe, Sarah, você não fez nada de errado. – Ele respondeu, segurando-a pelo braço.
Os dois trocaram olhares por um instante, e ele beijou-a na testa. Logo depois, os dois se despediram carinhosamente e John – depois de entrar no carro – foi embora.
No dia seguinte, Kevin já estava melhor. Darlene cuidara de seus ferimentos na noite anterior. Ele estava conseguindo caminhar quase que normalmente, porém, teve que pedir folga a Dennis pois não estava totalmente recuperado.
De qualquer jeito, Kevin tinha uma dívida a pagar, e por conta disso, foi acertar contas com Dean no Clark's.
– Oi, Dean. Preciso falar com você.
– Olha, e não é que "ele" apareceu? A não ser que você vá pagar o que me deve, eu sugiro que você... Meu Deus! O que foi que te aconteceu?! – Perguntou Dean, surpreso ao ver Kevin mancando, com muletas e vários curativos.
– Acontece que eu fui espancado num bar de motoqueiros ontem, pois estava tentando conseguir o dinheiro para pagar a minha dívida com você! – Ele respondeu zangado. Dean riu.
– A única coisa que você conseguiria com motoqueiros é ser espancado, garoto! Meu Deus, por que todos os caras gatos têm que ser burros? Nem tentando fazer algo decente, você faz direito... Mas enfim, você conseguiu o dinheiro?
– Você está vendo o meu estado?!
Dean largou a colher com que estava mexendo o chilli no panelão que estava no fogo e se aproximou de Kevin.
– Eu sabia, eu sabia! Quando é pra "comer" as vagabundas que passam pelo Clark's, aí você sabe fazer algo decente, já que é só pra isso mesmo que você serve. Mas quando eu te dou um voto de confiança, você só faz merda, atrás de merda! Você sabe os caras que me fornecem aquelas drogas? Eles são "da pesada", e se eu não deixar o pagamento em dia, você sabe o que eles farão comigo? Você tem alguma ideia do que eles farão comigo?! – Exclamou Dean, enraivecido.
– Olha, eu sinto muito cara! – Respondeu Kevin, tentando se desculpar sinceramente.
– É, essa é a sua melhor fala. Você tem muita sorte por já estar todo quebrado, se não eu te espancaria aqui mesmo! É melhor você nem chegar perto de mim de novo, por que da próxima vez que eu ao menos olhar para a sua cara, você vai desejar não ter me conhecido! – Exclamou Dean apontando o dedo para Kevin.
– E o que é que você vai fazer, Dean? Tráfico de drogas, caso você não saiba, é ilegal. Você não vai querer os "tiras" na sua casa, não é? Então eu sugiro que você apenas deixe isso como está, pois eu tenho mais vantagens que você! – Kevin respondeu, tentando desafia-lo.
Dean suspirou de tanta raiva, e depois de alguns segundos encarando Kevin, ele resolveu revidar.
– Você, está, morto. – Dean sussurrou para Kevin, com os olhos arregalados. – Saia daqui, agora! – Ele exclamou.
Kevin resolveu sair dali para não prolongar a discussão.
Dean esfregou as duas mãos em seu rosto para conter a raiva, e depois de alguns segundos refletindo sobre o que faria a respeito do prejuízo que a traição de Kevin lhe causou, ele resolveu ir ao banheiro para lavar o rosto e se acalmar.
Chegando lá, Dean – no banheiro feminino – viu que a faixa amarela que protegia a cena de crime continuava em voltada das cabines – no momento fora de uso –, e lembrou-se de quando viu Diane morta ali. Depois de refletir por uns instantes sobre o trágico acontecimento, Dean resolveu enfim lavar as mãos.
Ao virar a torneira, sentiu uma brisa de ar frio em seus braços e estranhou a mudança repentina da temperatura. De repente, ao olhar para o espelho acima da pia do banheiro, Dean assustou-se ao ver através do reflexo do espelho uma mulher, carbonizada. Ele virou-se rapidamente, mas não viu ninguém.
– Quem está aí?!
CONTINUA...
PRODUZIDO POR
UNBROKEN PRODUCTIONS
ESCRITO POR
RAFAEL CRUZ
UNBROKEN PRODUCTIONS SERIES
© 2015 Bloodlust – Todos os direitos reservados.