
Já passava do
meio dia, Kath perdeu a noção do tempo e acabou dormindo demais. De repente,
acordou-se percebendo que já era para estar no Clark's. Logo que se deu conta
do quão atrasada estava, sem nem tomar banho, ela vestiu a primeira roupa que
encontrou, calçou um par de botas que encontrara jogadas num canto qualquer,
escovou os dentes e sem nem tomar café da manhã, desceu as escadas correndo e
preparada para trabalhar.
– Oi, querida. Eu nem sabia que você ainda estava em casa, pensei que já tinha saído para trabalhar. – Disse Marnie, a avó de Kath, surpresa pelo atraso da neta no trabalho.
– Pois é, acabei perdendo a noção do tempo, precisava descansar. Por acaso você viu minha bolsa? – Kath perguntou olhando para todos os lados, apressada.
– Acho que está ali em cima do sofá. – Marnie respondeu. De repente, ela percebeu que a pulseira que dera para Kath há dois dias não estava em nenhum dos pulsos de sua neta, Marnie ficou perplexa.
– Onde está a sua pulseira, Kath?
– Ah, eu dei para o Dean. Tive que me livrar daquilo. – Kath respondeu, logo depois de pegar sua bolsa no sofá.
– Mas, como assim? Eu te dou um presente e você se desfaz dele em menos de dois dias?! – Marnie começou a ficar zangada com a neta.
– Desculpe, vovó. Eu não tenho tempo para discutir sobre isso, tenho que ir.
Marnie tentou prosseguir com o assunto, mas Kath bateu a porta em sua cara, correndo até o carro para chegar ao Clark's o mais rápido possível.
Enquanto isso, Dennis, que estava andando pelo Clark's para verificar se todos estavam cumprindo seus expedientes, estranhou a ausência de Kath e Dean no restaurante.
– Ei, Sarah. Por que você está como bartender, e não a Kath?
– Ela ainda não chegou, então resolvi ficar no bar hoje. Tudo bem pra você, certo? – Ela perguntou apaticamente.
– Tudo bem, certo. – Ele respondeu, minimamente desapontado com seus funcionários, que não se interessavam pelos seus serviços e tampouco compareciam frequentemente neles. Dennis foi até a janela da cozinha, e se surpreendeu ao ver Jim ali.
– Ei, Jim. O que você está fazendo aí?
– Estou fazendo a comida hoje. Dean estava se sentindo mal, então me pediu pra cobrir o turno dele pelo resto do dia. Não cozinho tão bem quanto ele, mas não se preocupe que eu me viro aqui. – Jim respondeu, enquanto cortava tomates.
– Tudo bem. Mas, se ele voltar, me avise.
Ainda no Clark's, Kevin, que hoje não estava trabalhando, decidiu ficar no restaurante para almoçar. Ele estava sentado numa das mesas no setores de Melissa, que hoje era a única garçonete cumprindo seu turno.
– Kevin, o que, o que você está fazendo aqui? E por que essas muletas e a perna engessada? Por que você não me ligou?! Eu fiquei muito preocupada! – Exclamou Melissa ao ver Kevin, aliviada e irritada com ele ao mesmo tempo.
– Bom, acontece que eu fui espancado num bar cheio de motoqueiros tentando conseguir o dinheiro que você não quis me emprestar! – Ele respondeu, tentando revidar.
– Quer dizer então que você está me culpando por não te emprestar um dinheiro que, aliás, eu nem tenho?!
– Eu só estou dizendo que você poderia ao menos demonstrar preocupação com os meus problemas, mas percebi que sou só uma máquina de sexo pra você!
– Olha, eu não sei o que dizer, Kevin. Eu nunca esperei que as coisas ficassem tão sérias entre nós, e me desculpe se te dei a impressão errada, mas não estou procurando esse tipo de relacionamento.
– Bom, então pelo visto, acabou. É hora de deixar as brigas de lado e seguir em frente, certo?
– Não foi o que eu disse, eu...
E antes que Melissa pudesse se explicar, Kevin acrescentou:
– Está tudo bem, não precisa me dar explicações. – Ele disse. Logo depois, pegou suas maletas e, com leve dificuldade, levantou-se. – Olha, acho que vou almoçar em casa, já fiquei tempo demais aqui hoje. Tchau.
Kevin saiu pela porta da frente, enquanto Melissa permaneceu ali, parada.
Logo mais, Kath chegou ao Clark's, e como todas as vezes em que se atrasava, foi diretamente para trás do balcão, onde no momento, trabalhava Sarah.
– Nossa, bom dia pra você também! – Exclamou Sarah a fim de tentar puxar assunto com Kath.
– Ah, oi. Nem te vi aí. Por acaso o Dennis notou a minha falta? – Ela perguntou, enquanto vestia o avental.
– Notou, e acho que está afim de te dar uma bronca.
– Bom, tanto faz. Não é como se eu fosse a funcionária mais frequente deste lugar.
– Então, eu estava querendo falar com você sobre algo. Eu tive um encontro com o John ontem à noite! – Disse Sarah, felizarda.
– Ah é? E como foi? – Kath perguntou indiferentemente, enquanto servia bebidas aos clientes.
– Foi ótimo, na maior parte do tempo. Eu pensei que ele ia me levar em algum restaurante chique, mas ele me levou na verdade naquele parque romântico. – Ela respondeu com um sorriso no rosto.
– Isto não poderia ficar mais brega. Dá pra você chegar logo ao ponto? Vocês ao menos se pegaram?
– Kath, você sabe que eu não gosto desse tipo de linguagem. Mas, sim, rolou um beijo.
– Meu Deus, Sarah. Você é uma carola mesmo, hein?
– O que você queria, que nós transássemos no primeiro encontro? Não sou vulgar como você. Além disso, ele agiu muito estranho depois disso. No meio do beijo, ele meio que me afastou e me levou pra casa sem mal dizer uma palavra depois.
– Vai ver você estava com mal hálito, os caras odeiam isso. – Kath respondeu comendo os amendoins que estavam em cima do balcão. Sarah olhou para ela com desprezo. – O que foi?! Eles odeiam mesmo! – Kath acrescentou.
– Bom, não importa. Eu não espero vê-lo tão cedo de novo. Depois do encontro, ele me comparou à esposa falecida dele. – Sarah respondeu, com cara de desprezo.
– Não que eu me apegue muito a detalhes mas, isto não era pra ser uma coisa romântica?
– Bom, até era, mas eu não quero que ele goste de mim por eu ser a primeira com quem ele se relacionou logo após a morte da esposa. Quero que goste de mim por quem eu sou!
– Olha, agora eu estou ficando até com pena deste coitado. Se você está procurando por um príncipe encantado, querida, você vai acabar sozinha num trailer no meio da floresta com um bando de gatos.
– Kath respondeu ironicamente.
– Eu nem sei por que falo dessas coisas com você, você nunca nem namorou.
– Ei, não julgue. Eu sou gostosa e vários caras já me quiseram, eu só não me apego a nenhum deles pois não quero depender de um homem para ser feliz. Eu tenho algo que falta em muita gente hoje em dia, amor próprio.
– Tanto faz, eu nem sei mais se ainda quero ter um relacionamento com ele.
– Sarah, falando sério agora. Até onde eu sei, você nunca namorou um cara, o que me leva a pensar que nunca fez sexo. E se você nunca fez, querida, se jogue nesse cara! Poucos vão ter a paciência dele.
– Paciência por que? Conheci o sujeito há dois dias, você acha que eu vou ficar tão íntima com alguém que mal conheço?
– Sarah, querida, eu sinto que este assunto está sendo prolongado além da minha cota de paciência com você, então eu vou simplesmente encerra-lo, pois eu já te dei os meus conselhos. Além disso, eu tenho vários caipiras querendo uma bebida para afogar as mágoas, então eu acho melhor você ir ajudar a coitada da Melissa que está tendo que se virar sozinha nas mesas. – Kath respondeu, tentando desesperadamente encerrar o assunto que a este ponto já estava aborrecendo-a. Ela permaneceu atrás do balcão servindo os vários clientes sedentos por uma bebida, enquanto Sarah voltou a atender os clientes nas mesas.
Mais tarde, lá pelas 20h30min, Kevin estava na casa de sua avó assistindo TV. De repente, ouviu seu celular tocar, percebeu que alguém o enviara uma mensagem. Então, decidiu checar o identificador de chamadas para ver quem o tinha enviado ela. O número era desconhecido. Kevin estranhou, mas resolveu ler.
"Encontre-me na Truman's Central Park em 15 minutos. Precisamos conversar, é muito importante!" – dizia a mensagem.
"Quem seria?" – Kevin pensou. Seria Melissa tentando se desculpar pelo ocorrido no Clark's? Seria Dean querendo cobrá-lo? Ele não tinha muitas alternativas, mas a mensagem o deixou muito curioso, então resolveu ir ao Truman's Central Park checar.
Mesmo com a perna engessada, Kevin resolveu pegar sua caminhonete e se esforçar para ir ao lugar mencionado na mensagem de texto. Como sua avó estava fazendo compras, não viu nada daquilo.
Enquanto isso no
Clark's, John chegou.
Como na noite anterior em que veio no restaurante, sentou no setor de Sarah para
que pudesse conversar com ela. Sarah, assim que o viu, não soube o que fazer,
então pediu a ajuda de Melissa.
– Oi, Melissa. Será que você pode atender o John por mim hoje? – Sarah perguntou, sussurando.
– Nossa, você já está tão íntima desse cara? Vocês já fizeram?
– É claro que não! Por favor, faça isto por mim?!
– Tudo bem, Sarah. Nunca vou te entender... – Melissa sacou o bloco de notas e a caneta e foi à mesa em que John estava sentado.
Enquanto isso, Sarah viu que dois adolescentes haviam se sentado em mesas de seu setor e foi atendê-los. Ao passar por John e ver que ele estava observando-a, ela rapidamente virou o rosto para o outro lado tentando parecer discreta e foi atender os meninos.
– Oi, o que vocês vão querer esta noite? – Sarah perguntou aos clientes, tentando não ver se John estava olhando-a.
– Eu quero lamber mostarda nos seus peitos, isto é o que eu quero. – Um dos garotos respondeu, rudemente. O outro riu.
Sarah sempre foi conhecida por manter sua pose de boa moça intacta, então resolveu não se enraivecer por causa da falta de educação dos meninos.
– Quem é você pra falar assim comigo, garoto? E quantos anos você tem?
– O bastante pra saber o que uma garota gosta. – Ele respondeu sorrindo descaradamente.
– Bom, eu duvido que qualquer garota decente queira isto.
– Isto é por que você ainda não deu "umazinha".
– Quer saber? Eu não sou obrigada a aguentar este tipo de atitude, acho melhor vocês esperarem outra garçonete vir atendê-los! – Sarah virou-se, mantendo a pose.
De repente, o menino agarrou sua bunda. Sarah rapidamente virou-se novamente.
– Garoto, é melhor você não me provocar! – Ela exclamou, começando a chamar a atenção de todo o restaurante.
– E o que é que você vai fazer, vaca estúpida?!
Sarah estava prestes a reagir agressivamente à atitude do menino, até que de repente, Dennis foi até ali e deu um soco na cara do garoto. Ele estava todo escabelado, com cara de quem estava bêbado, e foi logo para cima do garoto.
Todos ficaram surpresos com a reação precipitada do dono do Clark's. Ele começou a dar vários socos no adolescente, todos os clientes levantaram-se de suas mesas para assistir a cena. Todos estavam chocados com o que estava acontecendo, já que Dennis nunca demonstrou qualquer indício de ira como naquele momento. Estava descontrolado.
Depois de alguns segundos, o garoto já estava com o rosto todo inchado e cuspindo sangue. Mas mesmo assim, Dennis continuava a soca-lo sem indícios de que estava prestes a parar. Todos continuavam olhando, mas ninguém fazia nada, até que John levantou-se de sua mesa e parou Dennis, que parecia estar totalmente fora de controle.
– Ei, garoto, se você ou o seu amigo vierem ao meu restaurante de novo, vocês estão mortos! Ouviram?! – Gritou Dennis, sendo segurado por John caso resolvesse agredir o outro garoto.
– Jim, leve Dennis para dentro do escritório para que se acalme! – Exclamou John, fazendo um gesto com a mão.
Jim tentou levar Dennis ao escritório, mas este decidiu ir sozinho, ignorando-o completamente.
– Vamos, pessoal. Saiam da frente, o show já acabou! – Exclamou John, tentando afastar a pequena multidão.
– Não é melhor leva-lo para um hospital? – O outro garoto perguntou, extremamente assustado.
– Eu vou chamar uma ambulância! – Sarah interviu.
– Não precisa, eu levo ele! – John interrompeu-a.
– Tem certeza?
– Tenho. Vamos, garoto! – Ele respondeu e saiu do Clark's levando o garoto ferido em suas costas sem olhar pra trás novamente. Depois de alguns segundos parada em meio a todo aquele sangue derramado, Sarah decidiu então limpar aquela sujeira que estava por todo o restaurante.
Enquanto isso, Kevin acabara de chegar ao Truman's Central Park. A direção até lá foi difícil devido o gesso na perna, mas persistente e orgulhoso como Kevin era, não deixaria isso afeta-lo.
Já era noite, ele saiu de sua caminhonete e foi com suas muletas até um lugar para sentar-se no parque. Ele olhava para todos os lados tentando encontrar alguém, mas tudo estava deserto no lugar. Kevin começou a ficar desconfiado, então resolveu sentar-se ali e esperar pela pessoa misteriosa.
Alguns minutos mais tarde, John parou seu carro e tirou o garoto ferido consigo.
– Vamos, entre! – Ele disse ao outro garoto, sentado no banco de trás.
O garoto estranhou, pois aquilo nem de longe se parecia com um hospital. Era uma casa enorme, aparentemente abandonada e velha, no meio de várias árvores que pareciam levar a lugar nenhum. Era algo totalmente deserto.
– Senhor, você não disse que nos levaria a um hospital? – Ele perguntou, assustado.
– Ele não vai chegar vivo até o hospital, entre comigo! – John respondeu, carregando o outro garoto nas costas.
– Que lugar é este?
– É a minha casa, venha!
O garoto entrou e John fechou a porta.
Enquanto isso, Kevin estava sentado no parque esperando há quase uma hora. Já estava exausto, então percebeu que tinha recebido um trote e decidiu voltar para casa.
John estava na
cozinha. O garoto tentava
encontrar pulsação em seu amigo, mas o coração dele mal batia. John voltou com
um pano na mão.
– Você vai cuidar dos ferimentos dele com isso?! – O garoto exclamou.
– Não exatamente. – John respondeu. E numa velocidade sobre humana, pegou o pano em sua mão e amordaçou o garoto, arrastando-o em seguida para o porão de sua casa.
Depois de arrasta-lo até mesmo pelas escadas, John jogou o garoto no chão abruptamente. De repente, deixou suas presas à vista e foi rapidamente até ele, mordendo-o no pescoço brutalmente e sugando seu sangue. O garoto gritava sem parar, mas o porão e pano enrolado em sua boca abafavam o som dos gritos, impedindo que alguém o ouvisse lá de cima.
Alguns minutos depois, Kevin chegou em casa. Tentou entrar de fininho para que sua avó não percebesse que ele dirigiu a caminhonete com a perna engessada. Depois de entrar, fechar a porta e guardar as chaves em seu bolso, Kevin foi até a cozinha.
Chegando lá, a primeira coisa que viu foi uma grande poça de sangue. Ele ficou aterrorizado. Ao chegar mais perto e dar meia volta no balcão central da cozinha, viu Darlene, sua avó, morta, no chão.
CONTINUA...
PRODUZIDO POR
UNBROKEN PRODUCTIONS
ESCRITO POR
RAFAEL CRUZ
UNBROKEN PRODUCTIONS SERIES
© 2015 Bloodlust – Todos os direitos reservados.