"Marcas Profundas"
FADE IN:
CENA
1. INTERIOR. APARTAMENTO DE HELENA. SALA — NOITE
CAM se aproxima lentamente da porta.
Ouve-se barulho da CAMPAINHA tocando. HELENA, 42 anos, cabelos castanhos e
curtos, vestida de camisola, se aproxima à porta e a abre. É Melissa, de bolsa
de lado e com os olhos inchados.
Reação surpresa de Helena.
HELENA — Melissa? Aconteceu alguma
coisa?
Melissa não responde e acaba por
abraçá-la, chorando.
HELENA — Querida, o que aconteceu?
Acalme-se. Respira fundo, entre.
Melissa enxuga as lágrimas e entra,
deixando Helena para trás, que fecha a porta.
Helena segue Melissa, à medida que
vemos os detalhes do apartamento: bem organizado. Classe média.
HELENA — Sente-se
Melissa se senta no sofá assim como
Helena.
HELENA — Agora me diga. Por que está
aqui a essa hora? O que aconteceu? Você quer um copo d'água? Espera.
Helena se levanta e, em CORTES
DESCONTÍNUOS, ela vai até à...
COZINHA, abre a geladeira, pega uma
jarra de água, pega um copo no armário, enche, devolve a jarra à geladeira e,
por fim, volta para à...
SALA, onde entrega o copo para
Melissa, que o bebe e respira fundo. Helena se senta.
HELENA — Respire fundo, mantenha a
calma. Agora me diga.
MELISSA — Desculpe por aparecer
assim, sem avisar, detetive.
HELENA — Imagina, foi por isso que
lhe dei meu endereço, lembra?
MELISSA — Sim, mas... Tão tarde...
HELENA — Não importa.
Instantes até que Melissa prossiga.
MELISSA — Sabe aquele teste de
gravidez que a senhora achou no piso do meu quarto?
HELENA — Perfeitamente.
MELISSA — De fato, era meu.
HELENA — Eu bem sabia. Não quis me
contar a verdade naquele momento, mas eu pude imaginar que aquilo tinha um
significado forte pra você.
MELISSA — Sim. Estou grávida. A
razão pela qual... (chora) Ele planejou tudo. A razão pela qual... Ele insistiu
pra que eu me casasse com o Vicente, a contragosto.
HELENA — Você está falando do senhor
Victor?
Ela balança a cabeça positivamente.
HELENA — E então?
MELISSA — Minha mãe fez parte de
tudo isso, mas não porque queria, e sim por medo.
Helena pega nas mãos de Melissa.
HELENA — Querida, me diga. Não faça
rodeios. Seja direta. Confie em mim.
Melissa respira fundo.
HELENA — Deixa eu ver se entendi...
Você está grávida, seu tio queria que se casasse com o filho dele, você não
queria... Porque está grávida? É isso? De outro homem?
Melissa balança a cabeça
concordando.
HELENA (surpresa) — Marcelo?
MELISSA — Não!
HELENA — E então?
MELISSA — Estou... grávida... dele!
Do morto! Do meu próprio tio!
CLOSE na reação assustada de Helena.
FADE OUT
LEGENDA: "24 horas
antes..."
FADE IN:
CENA
2. INTERIOR. MANSÃO BELMONTE. ESCRITÓRIO DE VICTOR — NOITE
Abrimos essa cena com EFEITO de uma
câmera fotográfica fotografando. A fotografia é de Victor, morto na poltrona e
com a adaga enfiada na barriga.
POV de Helena
Vemos a janela fechada, o notebook
sobre a mesa ao lado...
DE VOLTA À CENA
Helena, formalmente vestida para o
trabalho, luvas nas mãos, segurando uma máquina fotográfica, analisa o local ao
lado de dois policiais.
Alencar, um dos policiais, se
aproxima.
ALENCAR — E então, detetive?
HELENA — Teatral. Não há quem diga
que isso aqui foi de modo abrupto. Esse assassinato, além de ter sido
premeditado, foi perfeitamente bem ensaiado. Aonde estão os outros?
ALENCAR — Lá na sala.
Helena olha para o corpo, mais uma
vez.
HELENA — É incrível, não? A gente
pensa que essas atrocidades nunca acontecem com gente famosa, como esse
empresário.
Júlio, segundo policial, completa.
JÚLIO — É ainda mais assustador
quando sabemos que ele tinha uma fábrica de bebidas. Ontem mesmo eu degustei
uma bela garrafa de uísque da Belmonte bebidas.
HELENA — Nós pensamos que eles são
amados. Mas, na verdade, essas pessoas têm mais inimigos que amigos.
Ela olha ao redor e pousa o olhar no
aparelho de som, ali perto. Se aproxima, analisa, retira o pano sobre ele...
Constata que está ligado. Aperta no botão, fazendo com que o CD rode.
VICTOR (gravação de CD) — ... É
realmente complicado, meu caro amigo... Realmente.
O CD finaliza. CLOSE em Helena,
curiosa.
HELENA — Uma gravação? Claro! Um
álibi!
Helena se retira.
CORTA PARA:
CENA
3. INTERIOR. MANSÃO BELMONTE. SALA — NOITE
Melissa, chorosa, está sentada no
sofá, ao lado de Marcelo, que tenta consolá-la, assim como Armani. Marta,
preocupada, anda de um lado para o outro.
Helena desce as escadas com a
máquina nas mãos e um pequeno bloco de papéis no bolso.
HELENA — Estão todos aqui?
ARMANI — Os que fizeram parte do
jantar, sim.
HELENA — Ótimo. Poderiam vir comigo
até à delegacia? Quero coletar informações. Vou inquirir cada um.
MARTA — Isso é realmente necessário?
Hoje?
HELENA — Agora. Crucial.
Ela retira o bloco do bolso.
HELENA (lendo) — Não só vocês, mas
como também os empregados. Inclusive Augusto, o mordomo.
CORTA PARA:
CENA
4. INTERIOR. DELEGACIA. SALA DE HELENA — NOITE
CLOSE no rosto de Augusto, nervoso.
AUGUSTO — Ele era uma boa pessoa.
ÂNGULO ABRE para revelar a sala bem
organizada, Augusto sentado frente à mesa de Helena e a detetive a ouvi-lo.
HELENA — Soube que você foi a
primeira pessoa que o viu morto.
AUGUSTO — Sim.
HELENA — A que horas mais ou menos?
AUGUSTO — Por volta das nove e quinze
da noite. Eu sempre levava um copo de leite para ele, em seu escritório, nesse
horário.
HELENA — Compreendo.
AUGUSTO — E então... Eu o vi.
FUSÃO PARA:
INÍCIO DE FLASHBACK
CENA
5. INT. MANSÃO BELMONTE. CORREDOR — NOITE
Augusto, levando uma bandeja com um
copo de leite, se aproxima do escritório de Victor. Bate na porta. Não obtém
resposta. Decide ENTRAR assim mesmo para o interior do...
ESCRITÓRIO, onde vê o corpo de
Victor.
Ele larga a bandeja, que cai no chão
e se espatifa.
AUGUSTO — Não! Meu Deus! Ele está
morto!
Augusto sai correndo. CAM vai buscar
o corpo inútil.
FUSÃO PARA:
FIM DO FLASHBACK
EM CONTINUAÇÃO À CENA 4, Helena
responde os relatos de Augusto.
HELENA — O que fez depois?
AUGUSTO — Fui até à sala de jogos e
chamei por dona Marta, seu Marcelo e senhorita Melissa.
HELENA — Estavam todos lá?
AUGUSTO — Sim.
HELENA — Qual foi a reação?
AUGUSTO — Seu Marcelo correu para o
escritório e, em seguida, voltou correndo para afirmar o que eu havia dito.
HELENA — Posso imaginar.
AUGUSTO — Em seguida, eu liguei para
o doutor Armani, que era o melhor amigo do falecido. Fazia poucas horas que ele
havia se retirado.
HELENA — Ao término do jantar?
AUGUSTO — Não, eles foram para o
escritório para que pudessem conversar.
HELENA — Como sabe?
AUGUSTO — Porque eu estive no local
momentos antes do diálogo entre eles.
HELENA — Ouviu algo?
AUGUSTO — Não sou esse tipo de
mordomo!
HELENA — Me perdoe pela
inconveniência. Prossiga.
AUGUSTO — Doutor Armani veio. Eu,
ele e Marcelo fomos ao escritório para ver o corpo.
FUSÃO PARA:
INÍCIO DE FLASHBACK:
CENA
6. INT. MANSÃO. ESCRITÓRIO — NOITE
Augusto, Marcelo e Armani presentes.
Ambos abalados, vendo o corpo morto.
ARMANI — Liguem pra polícia!
AUGUSTO — Farei isso.
Augusto SAI.
MARCELO — Vou falar com Marta e
Melissa, elas estão abaladas.
Marcelo SAI.
FUSÃO PARA:
FIM DO FLASHBACK
EM CONTINUAÇÃO À CENA 4, Augusto
finaliza.
AUGUSTO — Liguei pra polícia.
HELENA — Disso eu sei. Algo para
acrescentar?
AUGUSTO — Não, nada.
HELENA — Uma porta que você fechou,
uma janela que você abriu...?
Augusto, caindo na armadilha, tenta
se lembrar.
AUGUSTO — Houve a janela que o
senhor Belmonte pediu pra que eu fechasse.
HELENA — E fechou?
AUGUSTO — Não, lembro-me que o
doutor Armani tomou à frente e pediu pra que eu saísse.
HELENA — Apenas?
AUGUSTO — Apenas.
HELENA — Ótimo. Pode se retirar.
Augusto se levanta, porém olha para
Helena.
AUGUSTO — Sei que sou o principal
suspeito, afinal eu relato que encontrei o corpo. (ri) Como nos romances de
Agatha Christie, se me permite a referência... Os mordomos sempre são
suspeitos.
Ela sorri.
HELENA — Como nos romances de Agatha
Christie... Os mordomos, mesmo sendo suspeitos, poucas vezes são os culpados.
Não quero lhe dar esperanças por esse meu comentário, mas interprete como um
calmante.
Ele vai embora.
CORTA PARA:
CENA
7. INT. DELEGACIA. SALA DE HELENA — NOITE
Essa cena segue em PLANO SEQUÊNCIA.
CLOSE em Melissa, abalada.
MELISSA — Eu o adorava. Não acho que
ele tinha inimigos.
ÂNGULO ABRE para revelar o local e
Helena, em pé, observando a suspeita.
CLOSE em Helena.
HELENA — Todos dizem a mesma coisa.
Mas parece que não estão cem por cento certos. Há um motivo muito forte para
ter sido morto. Em análise, não foi um suicídio, porque quem cometeria um
suicídio daquela forma teatral?
CAM se afasta de Helena para
revelar, agora, que quem está sendo inquirida é Marta.
MARTA (seca) — Eu também não acho
que tenha sido suicídio. Primeiro porque Victor era orgulhoso demais pra isso.
Segundo, porque ele amava a vida que tinha.
CAM se afasta de Marta e busca
Helena, que está sentada, desta vez, atrás da mesa, fumando.
HELENA — As pessoas as quais eu
inquiri me disseram que você era... o melhor amigo de Victor.
CAM busca Armani, sentado frente à
mesa.
ARMANI — Sim.
CLOSE em Armani.
HELENA (O.S.) — Então, eu quero que
me conte tudo o que sabia sobre Victor Belmonte, está ouvindo? Não me esconda
nada.
ARMANI — Entendi. Bom, antes de
morrer, Victor me fez uma revelação...
CAM, agora, vai buscar Helena, que
já não está fumando, e de braços cruzados na cadeira.
HELENA — Você é motorista?
VLADIMIR (O.S.) — Sim.
ÂNGULO ABRE na HORIZONTAL para
revelar Vladimir sentado de frente com Helena.
HELENA — Tinha uma boa relação com o
falecido?
VLADIMIR — Trabalho pra ele há três
anos. Então, sim.
CAM se aproxima, aos poucos, da
detetive.
HELENA — Você não está sendo a
primeira pessoa a quem eu digo isso, ouça: não minta. Me conte toda a verdade.
DIÓGENES (O.S.) — Quais foram suas
conclusões?
CAM sai da detive e vai buscar a
última pessoa frente à ela na mesa: o delegado Diógenes, 52 anos, formalmente
vestido.
CAM para atrás dele, de modo que
possamos vê-lo de costas e Helena, à sua frente.
HELENA — É um caso simplesmente
complexo. Mas há algo que me intriga. E eu...
Ela se levanta.
HELENA — Não vou esperar até amanhã
pra tirar conclusões sobre isso.
DIÓGENES — O que vai fazer,
detetive?
HELENA — Você pode me acompanhar até
à mansão Belmonte?
CORTA PARA:
CENA
8. INT. MANSÃO BELMONTE. ESCRITÓRIO — NOITE
PLANO DETALHE nas belas mãos de
Helena segurando as maçanetas da janela.
HELENA (O.S.) — Está vendo?
ÂNGULO ABRE para revelá-la junto ao
delegado Diógenes. O local já está mais calmo, sem o corpo. Helena abre a
janela.
HELENA — A janela está aberta. O
assassino não entrou pela porta e sim por aqui.
Daqui podemos ouvir a fala de
Helena, na cena seguinte:
HELENA — Eu sei que minha presença
aqui é um pouco incômoda...
CORTA PARA:
CENA
9. INT. MANSÃO. SALA — DIA
Melissa e Marta sentadas no sofá.
Helena em pé, junto com Marcelo e Vladimir e, ao canto, Augusto, em sua posição
de mordomo.
HELENA (continua) — ... Mas
compreendam que aqui houve um assassinato, então não liguem se eu vasculhar os
quartos e os pertences de ambos. Com suas permissões.
MARTA — Já que é necessário...
HELENA — Importantíssimo.
CORTA PARA:
CENA
10. EXT. MANSÃO. JARDINS — DIA
Melissa e Marta caminham juntas.
MELISSA — Mãe, não gosto nada da
ideia dessa detetive revirando nossos quartos.
MARTA — Mas é necessário, filha.
Houve um assassinato! Assassinato!
Marta ri, descontroladamente.
MELISSA — Pra você, isso é
engraçado?
MARTA — No mínimo, inusitado. Mas
quem diria que o pobre Victor iria ser morto ontem à noite?!
MELISSA — Pobre? De pobre, mãe,
aquele homem não tinha nada.
Armani se aproxima das duas.
ARMANI — Bom dia!
MARTA (sorridente) — Bom dia, doutor
Armani!
CORTA PARA:
CENA
11. INT. MANSÃO. QUARTO DE MELISSA — DIA
Helena, de luvas, analisa o local.
Algo chama sua atenção. Ela se aproxima da mesinha ao lado da janela e encontra
um aparelho de teste de gravidez jogado debaixo do móvel. A detive o pega.
PLANO DETALHE no teste que deu
POSITIVO.
HELENA — Ela está grávida?!
Armani ENTRA.
ARMANI — Detetive?
Ela se assusta, porém se recompõe.
HELENA — Doutor Armani!
ARMANI — Interrompo?
HELENA — Não, entre. Estou apenas
analisando.
ARMANI — Alguma coisa nova?
HELENA — Sim e muitas perguntas.
ARMANI — As quais não me dizem
respeito.
HELENA — Não, doutor, pelo
contrário. Sabe no que eu estava pensando? Já que o senhor era um amigo bem
íntimo do falecido, bem que o senhor poderia me ajudar nas investigações, não?
ARMANI — Estou a dispor.
HELENA — Como esse teste de
gravidez, que chamou minha atenção. É mais que comprovado que é da senhorita
Melissa.
ARMANI — Ela está grávida?
HELENA — Não sabia?
ARMANI — Estou tão surpreso quanto
você!
Helena começa a andar, atenta ao
objeto nas mãos.
HELENA — O senhor Belmonte não lhe
revelou nada sobre a sobrinha estar grávida?
ARMANI — Não.
Os olhos de Helena pousam na parede
que a cama está encostada. Se aproxima. Analisa. Vê umas marcas de batidas.
HELENA — Veja só isso!
ARMANI — O quê?
Helena se agacha para investigar o
piso e acaba encontrando arranhões. Se levanta.
HELENA — Há arranhões no piso,
batidas na parede. Isso quer dizer que houve um movimento muito brusco sobre
essa cama!
Armani ri.
ARMANI — Perdão, detetive, mas está
se referindo a algum ato sexual?
HELENA — É uma hipótese. Ou uma
briga.
Melissa e Marta ENTRAM.
MELISSA — O que vocês estão fazendo
no meu quarto?
HELENA — Acho que já sabe. Mas,
antes, poderia me responder uma coisa, senhorita Melissa? (mostrando o teste de
gravidez) O que significa isso?
Melissa e Marta reagem assustadas.
MELISSA — Não faço a mínima ideia.
HELENA — É elementar que faça,
afinal foi encontrado no piso do seu quarto.
MARTA — Isso não quer dizer que é
dela!
HELENA — Bem colocado, dona Marta.
Mas, talvez, seja.
MELISSA (segurando as lágrimas) —
Juro. Por Deus. Que. Isso. Não. É. Meu!
HELENA — Tudo bem, então. Portanto,
creio que possa me responder a razão pela qual há arranhões no piso, abaixo de
sua cama, nos pés da cama... E na parede?
CLOSE em Melissa, apavorada.
MELISSA — Eu não sei! (grita) Eu não
Sei!
MARTA — Calma! Mas pra que isso? Detetive,
se eu bem me lembro, você está aqui apenas para investigar a morte do meu
falecido cunhado, não?
HELENA — Exato. Mas as pistas podem
estar em qualquer lugar.
Tensão. CLOSES ALTERNADOS entre
todos presentes na cena.
CORTA PARA:
CENA
12. INT. MANSÃO. SALA — DIA
Melissa, ainda abalada, ao lado de
Marta, sentadas no sofá. Marcelo, Armani e Helena em pé.
HELENA — Há coisas que eu descobri
que podem muito bem levar a razão do assassinato. É um conjunto de sentimentos
que cada um de vocês aqui, presentes nessa sala, poderia sentir. Como ódio,
repulsa... Eu estou disposta a ouvir qualquer coisa, até mesmo uma revelação.
Helena retira do bolso um cartão com
seu endereço.
HELENA — Portanto, se há algo que os
aflige e que ainda não me contaram, sintam-se à vontade pra irem ao meu
apartamento, a qualquer hora.
Ela se aproxima de Melissa, abre
suas mãos, põe o cartão dentro e as fecha.
MARTA (P/Melissa) — Fique com isso.
E, quanto aos outros, se quiserem meu endereço, já sabem onde encontrar. Ligar
seria uma opção, mas eu apoio a ideia de que algo ao vivo, pessoalmente, soa
muito mais verdadeiro que à distância.
Helena vai embora.
Daqui, já podemos ouvir o barulho do
CHORO de Melissa e a fala de Helena, todos vindo da cena seguinte:
HELENA — Grávida do seu próprio
tio?!
CORTA PARA:
CENA
13. INT. APARTAMENTO DE HELENA. SALA — NOITE
EM CONTINUAÇÃO À CENA 1, Melissa
responde a pergunta de Helena. Mesmas posições.
LEGENDA: "Horas depois..."
MELISSA — É difícil pra mim e até
vergonhoso, mas sim.
HELENA (chocada) — Mas... Como? Como
isso aconteceu?
MELISSA — Ele... Estava bêbado...
Isso foi há duas semanas atrás.
FUSÃO para:
INÍCIO DE FLASHBACK:
CENA
14. INT. MANSÃO. QUARTO DE MELISSA — NOITE
LEGENDA: "Duas semanas
antes..."
Melissa, sentada na cama, quando
Victor, bêbado, entra e fecha a porta.
Ela se levanta, assustada.
MELISSA — O que você está fazendo
aqui, tio? Eu já te disse!
VICTOR — Cala boca!
Ele dá um tapa nela, que cai na
cama. Victor sobe em cima dela, tampando sua boca.
VICTOR — Eu vou te dizer uma coisa,
simples. Leve pro túmulo. Você é minha, entendeu? Só minha. Apenas minha.
Ele tira uma fita isolante do bolso
e trata de colar na boca de Melissa, que grita, tentando se soltar. Ele trata
de segurar seus braços e suas pernas, à medida que tira suas calças e sobe o
vestido dela.
CLOSE no rosto de Melissa, que
chora, tentando gritar, porém a fita abafando o som.
POV DE VICTOR
Ele segura os braços de Melissa, que
se debate e começa a fazer o ato sexual, com agressividade, batendo a cama na
parede.
DE VOLTA À CENA
PLANO DETALHE na parede, que começa
a descascar com o forte impacto da madeira da cama.
CORTA PARA o PLANO DETALHE do piso,
que ganha fortes arranhões do pé da cama, a medida que Victor se move, ferozmente.
FUSÃO PARA:
FIM DO FLASHBACK
EM CONTINUAÇÃO À CENA 13 que, por
sua vez, dá continuidade à cena 1, Helena reage chocada.
HELENA — Meu Deus!
MELISSA (chorando) — Depois desse
episódio terrível, eu procurei fazer um teste de gravidez, foi quando eu
descobri. Essa é a razão pela qual ele queria que eu me casasse com o Vicente,
para que nós ficássemos juntos, tivéssemos uma relação e que, por fim,
dissessem que o filho que estou esperando seria de Vicente, e não dele... Do
meu próprio tio!
HELENA — Sua mãe... sabe?
MELISSA (chorando) — Sabe. Mas,
assim como eu, ela tem medo. Teve muito medo. Pra todo mundo, meu tio
aparentava ser uma pessoa maravilhosa, mas ninguém... Absolutamente ninguém
saberia a real face dele, o que acontecia ali, no interior daquela mansão, após
todas as portas e janelas se fecharem...
CLOSES ALTERNADOS.
FADE OUT
FIM
DO EPISÓDIO