UMA PRODUÇÃO ORIGINAL
UNBROKEN PRODUCTIONS
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CENA 01 – RIO DE JANEIRO / IGREJA / INT. / DIA.
Instrumental dramático. A
igreja lotada de gente de todos os tipos, que não dizem nada, apenas choram.
Câmera fixa na última
fileira. Lauro (quarenta anos. Pele
clara, cabelos grisalhos, paletó preto) muito abalado, mãos dadas à
Esther (Beira os cinquenta anos de idade. Loira, alta, de classe).
PADRE – Estamos todos
aqui, infelizmente reunidos pela morte da jovem Luna. Eu, que tive a enorme
oportunidade de a conhecer, garanto que tinha o poder de fazer até o mais
endurecido dos homens poder sorrir. Era uma mulher boa. Em nome de sua mãe,
Esther, de sua irmã, Estela, e de seu esposo Lauro, faremos todos uma oração.
Que a alma da Luna esteja em bom recanto.
Todos levantam, dão as
mãos. Começam a rezar.
CORTA PARA/
SEQUÊNCIA DE CENAS [DIA.]
v
Todos saindo da igreja.
v
Esther em seu carro, sendo conduzido pelo
motorista. No banco do passageiro, Estela (Cabelo ondulado e estatura mediana.
Na casa dos quarenta anos, ela traja um modelo de vestido exclusivo.
Acompanhado de uma sapatilha preta.)
v
Imagens do alto do corcovado. Seguindo em outros
pontos da cidade maravilhosa. Pessoas caminham pelo calçadão.
v
CENA 02 – RIO DE JANEIRO / PRAIA DO LEBLON / EXT. /
DIA.
Lauro caminhando, um
pouco inerte. Senta na areia, fica a observar o mar, mudo. Do outro lado da
rua, vemos um grupo de jovens se aproximando dele. Estela liderando.
[TODOS JUNTOS] – Parabéns
pra você. Nessa data querida. Muitas felicidades! Muitos anos de vida!
Parabéns, Lauro.
Lauro reage, surpreso.
LAURO – Eu fico grato
pelo gesto de companheirismo de todos. É louvável que vocês ainda lembrem de
mim, mas... O atual momento da minha vida não merece nenhum tipo de
comemoração. Eu sinto muito.
Estela se aproxima e o
abraça.
ESTELA [SUSSURRANDO EM
SEU OUVIDO] – Lauro, desopila, vai... Ninguém menos que eu entenderia melhor
essa fase conturbada da sua vida. Como você mesmo sempre ressaltou; A vontade
de viver é maior que tudo. Então, não acha que a bola tem que seguir em frente?
LAURO – Estela, vai para
casa, por favor... Eu venho notando há dias que você vem tentando essa
aproximação forçada. Não faz nem questão de disfarçar. Meus amigos não servem
de ponte pra te atrelar a mim. O melhor que você pode fazer é juntar os trapos
e respeitar minha decisão. O tempo urge, o tempo passa? Pra mim não é bem
assim! Vivi os últimos anos da minha vida com a sua irmã. Eu amei ela,
respeitei ela, fui presente na vida dela... E não será agora, nessa fase
difícil, que eu vou seguir como se nada tivesse acontecido, como se ela nunca
tivesse existido.
ESTELA – Calma! Não é bem
isso que você entendeu. Eu só estou tentando dizer que... Aquela relação
camicase acabou. Os sonhos futuros acabaram. Uma parte sua se foi, mas isso não
impede de uma outra pessoa querer entrar na sua vida e compartilhar um pouco
dos seus planos.
LAURO – E quem seria essa
pessoa? Você, por acaso?
CORTA PARA/
Um carro (Mercedes-Benz,
ano 2016) estaciona em frente a ciclovia. Dele desce Esther. Ela anda até
próximo Laura e Estela, furiosa.
ESTHER – Estela, vai já
pro carro!
ESTELA – Claro que não,
mamãe. Não está vendo que estamos comemorando o aniversário do Lauro?
ESTHER – Eu mandei você
entrar no carro. Não vou falar outra vez.
Estela beija Lauro no
rosto e segue para o veículo, a contragosto.
Os outros amigos de Lauro também
se despedem.
ESTHER – Olha aqui
rapaz... Eu serei direta; Fique longe da minha filha! Você acha pouco a
desgraça que ocasionou a vida da minha Luna?
LAURO – Como assim? Do
que a senhora está falando?
ESTHER – Não se faça de
desentendido. A Luna acabou com a própria vida, as vésperas de ir para a cama
com você.
LAURO – Meça as suas
palavras, Esther. Eu e a Luna tínhamos acabado de nos casar. A lua de mel, que
não chegou a acontecer, não se resume em apenas uma noite de sexo.
ESTHER – Eu não estou
interessada na sua intimidade. Só sei que o suicídio aconteceu naquela noite, e
eu tenho motivos de sobra para acreditar que a Luna não casou feliz.
LAURO – Pelo amor de
Deus, eu não vejo o porquê de continuarmos essa conversa medíocre e
irrelevante.
ESTHER – Lauro, você acha
que eu não percebi a maneira em que a Estela fala de você? O olhar cheio de
brilho quando ouve falar o seu nome? Por tudo que é mais sagrado, a desgraça de
se apaixonar por você, não pode resultar na morte de uma outra pessoa.
LAURO – Cala a boca,
Esther. Eu não sou obrigado a continuar ouvindo esse seu discurso de quem não
sabe um terço da missa. Eu espero nunca mais olhar na sua cara novamente. Com
licença.
Lauro vira-se de costas
para a matriarca.
ESTHER – Eu é que espero
não precisar voltar a tocar nesse assunto. Se você acha que já fez o suficiente
contra a minha família, acho que já está na hora de sumir no mundo e não mandar
notícias. Pense nisso!
Lauro segue caminhando
até um ponto de taxi.
CORTA PARA/
Uma história de
LEONARDO CASTRO
LEONARDO CASTRO
Supervisor de Capítulo
VINÍCIOS BORGES
VINÍCIOS BORGES
CENA 03 – RIO DE JANEIRO / AP. DE LAURO / INT. /
TARDE.
Lauro sentado à frente de
uma vasta mesa. Ele é acompanhado por Marcos (Pele branca, cabelo liso e olhos
claros. Vestido sempre por traje esporte fino.) A empregada serve o almoço,
enquanto os dois conversam.
LAURO – Obrigado por ter
aceitado o meu convite de passar o restante do dia comigo, Marcos.
MARCOS – Imagina, cara.
Eu ficaria ofendido se não me convidasse.
LAURO – Eu precisava
conversar com alguém, sabe. As palavras daquela mulher ainda reinam dentro da
minha cabeça. Eu nunca imaginei ter que passar por uma situação como aquela.
Foi deprimente.
MARCOS – Não se deixe
abalar por isso, Lauro. Aquela mulher se faz de vítima até com uma arma na mão.
Ela precisa se situar e pensar na hora de agir. No mundo sempre haverá pessoas
assim, acostume-se.
LAURO – Claro! Eu poderia
esperar isso de qualquer pessoa, menos da mulher que gerou a pessoa que eu mais
amei nessa vida.
MARCOS – Ainda bem que
isso não mudou a personalidade da Luna. O objetivo dela era te ferir, e pelo
visto ela está conseguindo, ainda que não totalmente. Eu sugiro que mudemos de
assunto. Quer uma dica sobre o que fazer nas próximas horas?
LAURO – Estou sem cabeça
para todas suas sugestões. Posso ir pro quarto e te deixar na companhia da
minha televisão de setenta polegadas?
MARCOS – Se o barulho do
meu filme de faroeste não incomodar...
LAURO – Não incomoda.
Fique à vontade. A casa é sua!
Lauro deixa o cômodo e
segue para o quarto.
CORTA PARA/
CENA 04 – RIO DE JANEIRO / FRENTE A UM APART. DE
LUXO / EXT. / NOI.
Um automóvel branco (Frontiê,
ano 2014) parada em frente ao apart. em uma rua pouco movimentada. Sentada no
capo do carro, vemos Margot (Cabelo longo, cor que lembra o chocolate. Vestida
por uma camiseta branca e uma saia da mesma cor.). Ela retira de sua bolsa o
controle do portão.
Margot abre o portão e
entra de imediato no imóvel.
CORTA PARA/
CENA 05 – RIO DE JANEIRO / APART. DE LUXO / INT. /
NOI.
Uma cama redonda, com
lenções vermelhos, destaca-se em meio a tantos objetos pornográficos. Deitada
no móvel, uma ninfomaníaca dorme tranquilamente.
Margot, sem perder a
classe, vai até o guarda-roupas do quarto e abre a primeira gaveta; uma arma
calibre trinta e oito é o único objeto encontrado por ela.
MARGOT – Que pena. Tão
bonita... E tão infeliz. Que o diabo te acompanhe, maldita.
Com a arma em mãos, dois
tiros são disparados contra a garota, que continua ali, desta vez morta. Margot
ri.
CORTA PARA/
Alguns minutos se passam.
Pela janela do quarto, o carro do desembargador José Alberto. (Homem elegante. Cabelo totalmente branco, paletó azul-escuro.)
estaciona.
Margot fica sentada ali,
ao lado do corpo da garota, esperando. Ele entra.
MARGOT – Surpresa! Achou
que eu nunca descobriria seu caso? Engano seu, meu amor. De presente para os
amantes, entrego a cabeça da vagabunda.
ZÉ ALBERTO – Eu não posso
acreditar que isso seja real. Você matou uma pessoa atoa, seu monstro?
MARGOT – Quanto
sentimentalismo barato. Eu apenas estou cansada de desempenhar o papel que me
cabe na encenação judicial de um desembargador infiel. Eu lavei a minha honra
com o sangue dessa mulher.
ZÉ ALBERTO – Você me
surpreende com tanta burrice, Margot. Arque com as consequências. Eu quero o
divórcio!
MARGOT – Ah, quer o
divórcio? Muito bem, meu querido. Junto ao divórcio, eu também te dou o peso
que é encarar a sociedade como um marido infiel. Todo mundo vai saber que o
aclamado desembargador José Alberto não passa de um canalha.
ZÉ ALBERTO – Eu vou
embora desse pesadelo. Eu quero saber como você vai fazer pra se livrar do
corpo dessa pobre coitada.
MARGOT – Se eu me livrei
dela, o corpo é o de menos. Talvez eu mande empalhar, nunca se sabe. Penso em
colocar no seu quarto pra que você lembre com quem está lidando. Enfim. Vai
indo pra casa, vai... Lá a gente conversa melhor.
José Alberto bate à porta
ao deixar o local.
CORTA PARA/
CENA 06 – RIO DE JANEIRO / FRENTE A UM APART. DE
LUXO / EXT. / NOI.
Margot vem saindo. Pedro
(Másculo e bem trajado.) espera por ela.
MARGOT – Viu para que
lado foi o cretino do meu marido?
PEDRO – Seguiu em direção
a mansão de vocês! Qual foi a reação dele?
MARGOT – Menos chocado do
que eu imaginava. Pelo visto essa mulher não tinha o mínimo de importância em
sua vida. Confesso que fiquei decepcionada, adoraria fazer ele sofrer. Bem, não
foi dessa vez. Trate de dar fim no corpo dessa maldita e esquecer o acontecido.
Amanhã acertamos as nossas contas. Te espero no local de sempre. Seja sigiloso.
PEDRO – Serei pontual,
dona Margot.
MARGOT – Ótimo!
Ela entra no carro e dá a
partida.
CORTA PARA/
CENA 07 – DUBAI / SALÃO DE FESTAS / INT. / NOI.
LEGENDA: DUBAI
Festa glamorosa. Muitas
pessoas, trajadas elegantemente, andam pelo local, bebendo champanhe,
conversando, etc. O destaque é Duquesa Irene (pele negra, cabelo volumoso e
vestido galanteador).
Entre os demais, Álvaro
(pele extremamente clara. Óculos de grau e cabelo da moda. Corpo esbelto,
toques sofisticados) bebe uma taça de champanhe, até que entra Sandra (Cabelo
na altura do ombro. Rosto adocicado, andar apressado e fiel a moda atual.), que
segue até ele.
SANDRA – Então, perdi
alguma coisa?
Ela o beija nos dois
lados do rosto.
ÁLVARO – Nada de
relevante. Apenas a Duquesa, que ao saber que dois brasileiros estavam na
festa, se entusiasmou em nos conhecer.
SANDRA – Será ótimo para
complementar minha estadia aqui em Dubai. Onde está ela? Pode nos apresentar?
ÁLVARO – Aquela ali, bem
na sua frente.
Ele aponta para Irene.
SANDRA – Não estou vendo!
Ela deve estar atrás da serviçal favelada.
Irene vem ao encontro dos
dois.
IRENE – Álvaro, querido.
Não vai me apresentar sua amiga?
ÁLVARO – Claro, DUQUESA.
Sandra, essa é Irene, mulher do Duque e principal motivo por essa festa está
acontecendo.
SANDRA – Muito prazer.
Ambas se cumprimentam.
IRENE – Me sinto em casa,
ao saber que não sou a única brasileira nesse país.
SANDRA – Ah, mas você é
brasileira? Que notícia boa. Eu nunca que imaginaria. Achei que você fosse
africana. As aparências enganam, não é mesmo, querida?!
IRENE – Você tem toda
razão. Sabe, seria melhor ser de um país onde as pessoas são menos
preconceituosas. Até porque isso não mudaria absolutamente nada em relação a
minha condição de vida atual. Agora, me deem licença, tenho que receber os
convidados. Fiquem à vontade!
Ela se afasta.
ÁLVARO – Meu Deus,
Sandra... Você falou o que queria e acabou ouvindo o que não queria.
SANDRA – Essa gente
ultrapassa o limite do ridículo. Eu ainda vou colocar essa favelada no seu
devido lugar. Pode esperar. O que é dela tá muito bem guardado. Onde já se viu,
gente. Uma pé rapada em meio a uma família de homens nobres. Pelo amor de Deus...
Ela deve ter esquecido o senso lá na ponte aérea do país de onde ela veio.
Imagina se toda essa gente bonita, sofisticada, pensa que no Brasil só tem
preto? Deus me livre de uma coisa dessas.
ÁLVARO – Eu vou pegar um
drinque, pra ver se consigo digerir tudo isso que aconteceu.
CORTA PARA/
CENA 08 – DUBAI / MANSÃO DE SANDRA/ QUARTO DE JAYME
/ INT. / NOI.
Quarto espaçoso. Leve
bagunçar, típico de adolescente. Jayme (Dezenove anos. Cabelo loiro, com
cachos.) deitado na cama, ouvindo música no fone de ouvido. Por conta da música
alta, ele não se distrai com nada.
CORTA PARA/
CENA 09 – DUBAI / FRENTE A MANSÃO / EXT. / NOI.
Três adolescentes
(Rodrigo, Priscila e Bernardo. Todos na mesma estatura e idades parecidas.)
parados em frente à janela do quarto de Jayme.
Priscila com o celular em
mãos.
PRISCILA – Há horas que
eu tento ligar pro Jayme e só dá caixa postal.
RODRIGO – Que sacana,
hein. A gente combinou que iriamos sair à noite.
PRISCILA – Espera, eu
mandei uma mensagem; ‘’ô garoto... A gente não vai esperar mais por você não,
o.k.? Você sabe qual balada nos encontrar. Estamos te esperando!’’
BERNARDO – Tive uma
ideia. Que tal jogarmos uma pedra na janela dele, daí ele vai perceber que
estamos aqui.
RODRIGO – Genial,
moleque. Eu começo!
Rodrigo pega uma pequena
pedra do asfalto e joga na janela.
CORTA PARA/
CENA 10 – DUBAI / MANSÃO DE SANDRA/ QUARTO DE JAYME
/ INT. / NOI.
Jayme levantando da cama
rapidamente. Ele se aproxima da janela e avista os três amigos. Do lado de
fora, eles acenam para Jayme, que larga tudo e tenta descer pela janela.
CORTA PARA/
CENA 11 – RIO DE JANEIRO / MANSÃO DE ESTHER/ INT. /
NOI.
Sala ampla. O tom
avermelhado do sofá faz referências aos quadros de artistas famosos espalhados
pelas paredes da casa. Deitada no mesmo, Estela lê um livro; Clarice
Lispector Perto do Coração Selvagem.
Esther vem entrando.
ESTHER – Que bom que você
está em casa. Será que podemos conversar?
ESTELA – Se for em um tom
civilizado, creio que qualquer conversa pode se tornar agradável, ainda que
seja com você.
ESTHER – Como você está,
minha filha?
Estela levanta.
ESTELA – Eu não vou perder
meu tempo respondendo, pois eu sei que você não se importa nem nunca se
importou comigo.
ESTHER – Percebe-se que você
mesmo está tentando fazer dessa sala um ringue de lutas. Fui advertida a tornar
essa conversa mais prazerosa de se conduzir, mais você não dá espaço. O que
você quer, hein? Acabar com a sua mãe?
ESTELA – Como assim?
ESTHER – Estela, eu acabei
de enterrar a sua irmã. E tudo que eu vejo nesse momento é você seguindo o
mesmo caminho obscuro que ela.
ESTELA – Continuo sem
entender! Dá pra ser direta?
ESTHER – Se afasta do Lauro,
pelo amor de Deus, minha filha. Desde o casamento da Luna, eu percebi que você
não o olha mais como antes. A não ser que... A não ser que você sempre fosse
mordida de amores por ele, ainda que morando sob do mesmo tapete que ela.
ESTELA – Você enlouqueceu.
Não sabe o que diz.
ESTHER – Eu percebi o que
você fez no dia do casamento dela, sabia?
ESTELA – Eu não vou
continuar perdendo meu tempo com você, Esther. Sai da frente que eu preciso
passar.
ESTHER – Você fez uma
monstruosidade naquele dia, que até hoje me causa pesadelo.
CORTA
PARA// CASAMENTO DE LUNA // SETE DIAS ATRÁS
Lauro e Luna se beijam na
saída da igreja. A multidão joga arroz.
De longe, Esther e Estela
observam o casal.
ESTELA [SUSSURRA] – Até que
a morte os separe! [ELA MANDA UM BEIJO AOS NOIVOS]
Esther a olha assustada.
ESTHER – Pelo amor de Deus,
você tem noção do que acaba de falar?
ESTELA – Eu não disse nada
demais. Vamos embora, mamãe. Sua emoção está lhe ocasionando pensamentos de
extrema imaginação.
ESTHER – Eu não estou
ficando louca! Você agourou a felicidade da sua irmã. Espero que se arrependa
amargamente dessas palavras. Vamos embora!
CORTA
PARA// CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA ANTERIOR
ESTELA – Se você abrir a
boca pra contar isso pra alguém, eu vou... [ESTHER A INTERROMPE]
ESTHER – Vai o que, hein,
garota? Eu vou te ensinar a me respeitar, sua cretina. [ESTHER DA UMA FORTE
TAPA NA FILHA].
ESTELA – Você vai lastimar
esse dia! Lastimar!
Estela empurra a mãe e segue
para fora do casarão.
CORTA
PARA/
CENA 12 – DUBAI / MANSÃO DE SANDRA/ QUARTO DE JAYME
/ INT. / NOI.
Batidas na porta. No
interior do quarto, Helena (Beira os setenta anos de idade. Cabelo na altura do
queixo. Ela veste um vestido com estampas de jornais diversificados.)
HELENA – Jayme, meu
filho? Jayme, você está ai?
Ela percebe a ausência de
Jaime. Muito preocupada.
HELENA – Onde será que
está esse garoto? [ELA SE PERGUNTA, AO MESMO TEMPO QUE ENCONTRA O CELULAR DO
RAPAZ. AO ABRIR A TELA INICIAL DO APARELHO, A MENSAGEM ENVIDA PELOS AMIGOS DO
GAROTO VEM A TONA.]
HELENA – Não pode ser. O
Jayme saiu sem a minha autorização. A Sandra precisa fazer alguma coisa. [ELA
DISCA NO APARELHO]
CORTA PARA/
CENA 13 – DUBAI / SALÃO DE FESTAS / INT. / NOI.
Sandra sentada ao lado de
Álvaro, de frente a um balcão de bebidas. Seu celular chama.
SANDRA – Oi, Jayme?! [ELA ATENDE O APARELHO]
HELENA – Não, minha filha, não é o Jayme que está
falando. Sou eu, Helena, sua mãe.
SANDRA – Ah, oi, mamãe. Aconteceu alguma coisa?
HELENA – Infelizmente sim! O Jayme saiu sem a minha
autorização. E pior, escondido!
SANDRA – Não acredito! Eu falei que a senhora
tivesse cuidado no meu filho. Eu estou indo aí. A senhora, por acaso imagina
onde ele pode estar?
HELENA – Tenho quase total certeza. Venha que nós
vamos juntas até lá. [ELA DESLIGA O CELULAR]
Sandra devolve taça de
champanhe para o garçom.
SANDRA – Eu preciso ir
agora, Álvaro. Ainda vai ficar por aqui muito tempo?
ÁLVARO – Não muito! Estou
morrendo de dor de cabeça. Amanhã nos falamos no escritório. Beijos.
SANDRA – Até amanhã!
Sandra caminha até a
saída da festa. No meio do trajeto, ela avista e acena chamando a Duquesa
Irene. Irene vem em direção a Sandra.
SANDRA – A festa foi
ótima.
IRENE – Obrigada.
SANDRA – Mas vamos logo
ao que interessa. Quanto você quer?
IRENE – Como assim? Acho
que você está me confundindo.
SANDRA – Claro que não! É
você mesmo. Quanto você quer, para ir até a minha casa e lavar a latrina que eu
uso? Ou melhor... Quero te expor em praça pública, mostrando pra essa gente o
quanto eu me envergonho de vir do mesmo chiqueiro brasileiro que você. Morta de
fome!
IRENE – Olha aqui, se
você continuar a me ofender, eu vou sair daqui diretamente disposta a
denunciá-la por racismo e agressão verbal.
SANDRA – Calma, espera.
Me desculpa. É que eu não resistir. Força do hábito, sabe. Quando eu vejo uma
pretinha como você eu ainda fico indignada.
IRENE – Sei muito bem
como agem pessoas preconceituosas como você. Só te dou um alerta; Nunca mais
cruze o meu caminho. Você pensa que vai conseguir me humilhar, mas o que você
tá conseguindo é atiçar o meu pior lado.
SANDRA – Serei
calculosamente fria na hora de me livrar de gente como você! Eu pago pra ver a
sua vingança pessoal, garota! Você quem tem que ter cuidado comigo. A minha
proposta já está lançada. Contrato um empalhador e te coloco no meio da praça.
Não vai fazer diferença a exposição ao sol, não é mesmo favelada?
IRENE – Vagabunda! [ELA
DA UM TAPA NA RIVAL.]
SANDRA – Eu vou acabar
com a tua vida, desgraçada. Você me paga!
Sandra deixa o local.
CORTA PARA/
SEQUÊNCIA DE CENAS [NOITE.]
v
Ainda é noite no Rio de Janeiro. Chega de saudade,
de Tom Jobim da trilha a cena. Takes de comércios fechando e restaurantes
abrindo.
v
Imagem aérea; o carro de Esther sendo conduzido
pelo asfalto do Leblon.
v Estela sentada em uma calçada, de
frente a uma barraquinha de água de coco.
v Trânsito rotineiro.
v
CENA 14 – RIO DE JANEIRO / AP. DE LAURO / INT. /
NOITE.
Lauro na cozinha, de
frente para o fogão. Com um avental de cozinheiro e um pano azul no ombro. A
campainha toca.
Ele caminha para atender.
Lauro abre a porta.
LAURO – Não é possível!
Você?! Achei que a senhora não teria mais coragem de pisar o pé na minha casa.
Quer entrar?
Do outro lado da porta,
Esther coloca a bolsa na maçaneta e entra.
ESTHER – Lauro, eu estou
muito arrependida de tudo que te falei hoje mais cedo.
LAURO – No seu lugar eu
também ficaria, Esther. Ao que devo a honra de sua visita?
ESTHER – Eu vejo que há
uma panela no fogo. Não vou atrapalhar?
LAURO – Não se preocupe.
ESTHER – Lauro... Hoje eu
me deparei com uma terrível cena. Me vi assustada com a capacidade que algumas
pessoas têm de magoar as outras. E antes que você me julgue, eu quero dizer do
fundo do meu coração que eu estou muito arrependida de tudo que eu fiz contra
você. As vezes precisamos passar pela mesma situação, para que só assim,
tenhamos a consciência de nos colocarmos no lugar do outro. Comigo não foi
diferente! Quando eu me dei conta de que pequenas palavras poderiam magoar
tanto um ser humano, me vi na obrigação de vir até aqui e te pedir desculpas.
LAURO – Você me viu
passar longos anos ao lado da sua filha, Dona Esther. A senhora deve ter notado
que eu sou um homem íntegro. De riso fácil e de coração grande. Mesmo com
tantos hematomas causados por algumas palavras, o perdão é o melhor remédio
para cura-las. Por isso a minha casa e o meu coração estarão sempre à espera de
pedidos assim como esse seu.
ESTHER – Meu querido...
Muito obrigada, viu. Você não sabe o tamanho do sossego que meu coração
resgatou. Só que agora, para o alívio ficar completo, eu preciso trazer de
volta um segredo que eu guardo há muitos anos.
LAURO – Seja o que for,
Esther... Eu... Eu não vou abrir os olhos para somes as críticas, as injurias.
Eu vou entender perfeitamente e deixar reverbera na minha mente que uma nova
Esther acabara de nascer, bem diante de mim.
Esther respira fundo.
ESTHER – Eu cometi um
grande erro! Há exatos dezenove anos eu descobria que você e a minha Luna
estavam se encontrando as escondidas. Isso me deixou... Isso deixou aquela
Esther de uma maneira avassaladora. Eu não queria ver a minha filha com um
rapaz que não se igualava ao nosso então padrão de vida, sabe. Naquela época eu
era muito cruel, eu era ambiciosa. Mais hoje eu vejo que eu estava errada e...
E que eu não poderia ter feito o que fiz.
LAURO – O que foi que
você fez, Esther? [LAURO AGE NERVOSO E ALTERA O TOM DE VOZ.]
ESTHER – A Luna
engravidou de você e eu... E eu abandonei essa criança nas mãos de uma outra
pessoa!
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO